MARCELO PIMENTEL

Advogado, foi ministro do Trabalho e ministro presidente do TST

Lula resolveu dar um basta (temporário?) ao inoportuno debate sobre o terceiro mandato, que é alimentado pelos bajuladores e alguns de seus antigos parceiros sindicalistas, hoje deputados do PT. É de lembrar que o partido foi radicalmente contra a iniciativa de FHC ao patrocinar o autobenefício, insuflando seus áulicos de então à aprovação da proposta respectiva que havia sido recusada por JK — com amplíssimas possibilidades de êxito — e Itamar, então com mais de 80% de aprovação popular ao seu governo.

Registrem-se duas circunstâncias por oportunas: em primeiro lugar, Lula é o presidente da República que conseguiu lograr, ao longo do mandato, os mais expressivos índices de aprovação popular, índices que muito provavelmente resistiriam a qualquer plebiscito que se colocasse para aprovação ou rejeição de um terceiro mandato; em segundo, que é um presidente da República que, indefectivelmente, tem sido perfeito defensor dos direitos democráticos, princípios que sempre respeita, fato reconhecido até pelos seus detratores.

Embora aqueles que não votaram nele tenham tido dúvidas sobre sua indicação, ao assumir o posto, em face dos antecedentes notoriamente esquerdistas ao tempo da vida sindical, é notório que ele jamais arranhou os princípios conservadores que dão estrutura e base ao sistema vigente no país.

Certo é que as Américas estão caminhando para a esquerdização da miséria. Os povos dos países mais fracos economicamente, que estão realizando eleições, vêm escolhendo candidatos de esquerda, sem contar o cidadão que quer se tornar imperador da Venezuela, sobre o qual não se pode dizer que possuía a linha tal ou qual. Ele e seus interesses alucinados vão acabar levando o país a uma convulsão.

Porém, o nosso presidente, justiça seja feita, mantém-se em posição eqüidistante de todos os proselitismos que os colegas de curul presidencial têm ensaiado. Que assim persista, porque o Brasil já tem maioridade para não se embrenhar em campos que não possuam saídas claras, apesar da inoperância da oposição. O povo brasileiro parece ser alienado em política por ela pouco se interessando, mas, passado o “curto” período de Vargas, verifica-se que se afeiçoou à democracia depois da revolução, que se impôs ao esquerdismo inconseqüente de João Goulart, obrigado ao exílio por falta de apoio popular.

Mas Lula vive vicissitudes neste segundo mandato, a maior delas é a vergonha do apagão aéreo que desmoraliza o país, enerva o povo e dá ares de inoperância ao governo. Não há véspera de feriado que não se veja aflorar a incompetência administrativa nesse desalentado, triste e grotesco espetáculo do povo usuário da aviação, pelo chão dos aeroportos dormindo sobre o desleixo, a ganância e o despreparo das empresas aéreas. O governo foi responsável por ter ajudado a liquidar a Varig, que se afundou em um show de desordem administrativa lamentável. Mas, se houvesse sido lembrado que a Varig era prestigiada internacionalmente e que elevou o nome do Brasil, medidas deviam ter sido tomadas para salvá-la, aproveitando-se o que restava de sua magnífica estrutura técnica sobre a qual se construísse nova empresa.

Deixou-se que o nome do Brasil saísse pelos canos da retreta, internacionalmente e internamente e ficamos entregues a empresas sem estrutura suficiente para atender à demanda. São empresas pequenas que assumiram mercado grande e crescente. E continuam pequenas sem capacidade operacional na grandeza da exigência, pois não dispõem de equipamento e pessoal suficientes. Onde já se viu uma operação com tantos atrasos e cancelamentos na cara dessa Anac, que nos faz lembrar, com saudade, do DAC? Conduzindo-nos a esse espetáculo indigno de um país de Primeiro Mundo, as empresas comprometem a respeitabilidade administrativa pública e privada.

Lula abriu o peito e anunciou que o apagão tinha dia para terminar. Esse dia não chegou apesar das afirmações cada dia mais desencontradas das autoridades porque notoriamente o governo só encontrará um meio de acabar com a vergonha: quando abrir espaço, através de financiamento, para que novas empresas ou essas mesmas capitalizadas e mais competentes assumam novos compromissos. Nada de falar em abrir o mercado para estrangeiros, medida ilegal e capaz de afetar a segurança nacional. A BRA já se foi e vamos ficando ao deus-dará.

Diz o presidente enfaticamente que o país jamais viveu momento como este. Realmente há êxitos, mas eles se esvaem ante fracassos, como essa vergonhosa política da aviação comercial que faz galhofa do governo e machuca os usuários.

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