Informações de problemas mecânicos em aeronaves levantam questionamentos sobre manutenção

Angelo Pavini e Danilo Fariello – Valor Online

A imagem do setor aéreo e das companhias deve continuar sofrendo ainda por um bom tempo, avaliam analistas de empresas de corretoras. O difícil trabalho de identificação das vítimas, as investigações sobre as causas e a própria recuperação do local da tragédia - em um dos locais de maior movimento da cidade de São Paulo, ao lado do aeroporto de Congonhas - e as discussões sobre mudanças de rotas e na infra-estrutura vão manter o foco do noticiário no setor, prejudicando as empresas, em especial a TAM. Do acidente para cá, até sexta-feira, a ação preferencial (PN, sem voto) da TAM caiu 17,22%, a PN da Gol perdeu 9,38% e o Ibovespa subiu 0,12%.

A companhia teve sua situação mais complicada ainda pelo fato de o avião acidentado ter um problema no reverso do motor que, mesmo que não tenha causado a queda, afeta a imagem da companhia, lembra a analista da Brascan Corretora Mel Marques Fernandes. "Com essas novas informações, os passageiros podem duvidar da manutenção realizada pela TAM nas suas aeronaves e migrar em um primeiro momento para uma outra companhia aérea", afirma ela, destacando ainda que a empresa deve explorar a explicação da Airbus de que a aeronave podia pousar sem o reverso.

Ainda é prematuro tirar conclusão sobre as notícias sobre problemas no reverso do motor, mas isso danifica um pouco mais a imagem da TAM, independentemente se houve falha mecânica ou não, afirma Eduardo Puzziello, analista da Fator Corretora. "Quanto mais a imagem da TAM estiver na mídia, pior para ela, e a mudança dos holofotes do governo para a empresa a prejudica ainda mais", diz ele.

Para Puzziello, a demora nas apurações do acidente e as discussões sobre os aeroportos alimentarão notícias que vão prejudicar ainda mais a companhia.

Puzziello faz uma comparação dos casos da Gol em setembro do ano passado com o recente da TAM. No caso da Gol, o acidente ocorreu em uma região isolada, em um fim de semana, as imagens demoraram a chegar, o que ajudou a diluir o impacto na opinião pública. No caso da TAM, a tragédia ocorreu durante a semana, em um dos pontos de maior movimento da cidade e foi totalmente filmado antes e logo depois. "E as imagens do acidente, com as televisões acompanhando tudo ao vivo, são muito mais impactantes, assim como ocorreu no desastre de 1996, também em São Paulo e durante a semana", diz ele. E o impacto continua com a filmagem da retirada dos corpos num local de grande passagem de pessoas.

Apesar disso, Puzziello acha que é cedo para avaliar como isso tudo afetará as concorrentes da TAM. "A intensidade do problema pode ter sido diferente, a TAM se prejudicou mais que Gol, BRA e Ocean Air, mas todas saem perdendo", avalia. Para ele, os números do setor de agosto darão uma idéia mais clara do resultado final na demanda por passagens. Para ele, a melhor forma de recuperar a imagem do setor será uma atuação forte do governo na infra-estrutura.

Para Kelly Cristina Neander Trentin, analista da corretora SLW, algum suspiro positivo para as ações poderia surgir nos balanços do primeiro semestre. As recentes informações sobre a tragédia reforçam fatores negativos sobre a aplicação em ações da TAM, em relação aos papéis da Gol. "Ainda não se tem certeza sobre os culpados, mas o mercado pode ficar mais ressabiado quanto à manutenção dos aviões e a capacidade dos funcionários." Segundo ela, o investidor deve ficar fora das duas ações, por conta das incertezas.

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