Valor Online
De Brasília

As autoridades aeronáuticas estudam fazer uma auditoria em toda a frota de jatos A-320, da Airbus, desde que essa família de aeronaves chegou ao Brasil. O objetivo é descobrir se houve "imprudência" da TAM, única empresa aérea que usa o A-320 no país, na operação de aviões com reversores travados. No futuro, aeronaves com esse tipo de problema podem ter pousos restritos a aeroportos com pistas longas, defendem integrantes do governo.

Segundo uma fonte que acompanha de perto as investigações sobre o vôo 3054 da TAM, o governo já sabe que o avião não tocou o centro da pista principal do aeroporto de Congonhas no momento do pouso. A aeronave teria tocado o solo com um leve desvio à esquerda da faixa central. Em tese, isso reforça duas hipóteses: 1) houve um discretíssimo erro na aproximação final feita pelo piloto, com reflexos sobre o restante do percurso feito até a cabeceira de Congonhas; 2) o efeito do reverso direito travado já influenciou o início do pouso, "puxando" o avião para a esquerda. As autoridades acham a segunda hipótese mais provável.

Nessa avaliação, isso pode ajudar na explicação da curva à esquerda, feita pela aeronave no fim da pista, e enfraquece a possibilidade de que o piloto tenha tentado uma espécie de "cavalo de pau" como último recurso para paralisar a aeronave, antes do choque derradeiro contra o edifício da TAM Express.

O travamento do reverso não compromete a segurança das aeronaves, segundo manuais técnicos da Airbus, mas a companhia deve fazer o reparo do equipamento em até dez dias. Uma auditoria na TAM - medida que está em análise, mas sobre a qual ainda não houve decisão – poderá comprovar se essa "margem de segurança" (dez dias) tem sido usada até o limite e se a empresa "abusou" no uso dos jatos em aeroportos com pistas curtas.

"Estamos certos de que, agora mesmo, existem outros aviões voando com o reverso pinado (travado)", afirmou a fonte. Ela observa que todos os acidentes na aviação trazem ensinamentos. A própria atividade-fim do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) não é apontar culpados, e sim encontrar as falhas que levaram ao acidente investigado. O trabalho do Cenipa, bem como o de órgãos similares de outros países, também gera recomendações normalmente adotadas por fabricantes de aviões, de equipamentos e companhias aéreas para aumentar a segurança de vôo e diminuir os riscos no futuro.

No caso da colisão do Boeing da Gol com o Legacy, uma das prováveis sugestões é que se reforcem os sinais de alerta aos pilotos sempre que houver um desligamento do "transponder", aparelho essencial para acionar o sistema anti-colisão entre duas aeronaves. Pelo menos é isso o que indicará a CPI do Apagão Aéreo da Câmara dos Deputados.

No caso do acidente com o vôo 3054 da TAM, pode haver mudança de regras para a comunicação de travamento dos reversores à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), órgão responsável pela fiscalização. Pelas regras atuais, a empresa aérea só comunica à ANAC "falhas estruturais" ou "falhas de projeto" da aeronave, segundo informou a agência.

A idéia em gestação no governo é que qualquer travamento de reverso passe a ser obrigatoriamente comunicado à agência reguladora. Com isso, além de um controle mais rigoroso sobre o reparo do equipamento, poderão ser baixadas medidas para restringir a operação de aeronaves com esse tipo de problema.

Dessa forma, ficaria impedido o pouso de aviões com reverso travado em aeroportos com pistas curtas, em que a margem para erro é baixíssima. São os casos, por exemplo, de Congonhas (1.940 metros de extensão na pista principal), Santos Dumont (1.323 metros) e Vitória (1.750 metros). O reverso é apenas um mecanismo auxiliar para a frenagem do avião no pouso, mas a futura restrição seria uma medida preventiva, disse a fonte. A TAM defende a tese de que, por funcionar apenas como instrumento auxiliar, o reverso travado não é levado em conta nos cálculos para pouso. Portanto, não haveria problemas em deixar de usá-lo, mesmo em pistas curtas. (DR)

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