Roberta Campassi – Valor Online

A crise aérea assustou os passageiros e fez a Gol rever para baixo a quantidade de aviões que ela vai acrescentar a sua frota. O objetivo é evitar um excesso de oferta que, como conseqüência, afetaria a rentabilidade da companhia aérea.

A Gol fez mais modificações no planejamento de frota de sua unidade Varig e reduziu especialmente o número de aviões que seriam incorporados para as rotas domésticas - mais afetadas pelos problemas com o controle de tráfego aéreo e infra-estrutura.

A partir das revisões, Gol e Varig juntas vão agregar um avião a mais do que o previsto para este ano e terão, ao fim de 2007, 103 aeronaves. Em 2008, no entanto, o grupo trará sete aviões a menos do que anunciado anteriormente - ao final do período, serão 112 ao invés de 119. O plano foi alterado também para os anos seguintes, até 2012, quando a Gol pretende alcançar uma frota de 143 aeronaves e não mais 152.

As fabricantes de aeronaves podem cobrar multas das companhias quando o planejamento de frota é reduzido, mas isso não deve ocorrer com a Gol. Por ser a maior cliente da americana Boeing na

América Latina, a empresa brasileira tem bastante flexibilidade junto à fabricante.

"O mercado penalizou as ações da Gol com a notícia da revisão, mas foi uma atitude positiva da empresa", avalia Caio Dias, analista do Santander Banespa. Segundo ele, a companhia não crescerá como planejava, mas fez um ajuste para preservar os resultados financeiros. A queda de 3,35% na cotação das ações da Gol, na sexta-feira, foi a maior do Ibovespa.

O equilíbrio entre oferta de assentos e demanda dos passageiros é fundamental para a lucratividade das companhias aéreas. Quanto mais assentos ocupados, mais elas ganham. Ao contrário, quando os aviões começam a decolar com muitas poltronas vazias, as empresas reduzem o valor das passagens na tentativa de atrair mais clientes. Encurtam, assim, sua margem de lucro.

Em certa medida, essa situação vem ocorrendo desde o começo do ano. Para ocupar seus aviões novos, as empresas aéreas fizeram promoções agressivas. Na sexta-feira, a Gol divulgou dados

preliminares do segundo trimestre bastante inferiores àqueles registrados no mesmo período de 2006. A taxa de ocupação das aeronaves ficou em 69% (66% se a Varig for incluída), contra os 75,9% do ano anterior. O chamado "yield", indicador que mostra quanto o passageiros paga por quilômetro voado, caiu de R$ 22,3 para R$ 0,18. Na comparação entre os trimestres, a Gol elevou sua oferta em 56% (91% com a Varig), enquanto a demanda, medida pela receita por assento-quilômetro, subiu 41% (65% com Varig).

Alguns analistas acreditam que existe um risco de superoferta a partir de 2008. Outros, porém, afirmam que os planos de crescimento das aéreas são coerentes com o desenvolvimento da economia no país e o potencial de expansão do consumo de viagens aéreas.

A TAM, que é a maior companhia brasileira, vai aumentar sua frota em 17 aviões neste ano, para 112. Em 2011, a companhia prevê ter 143. Nas últimas duas semanas, a TAM anunciou a compra de 22

Airbus A350 e quatro A330, a serem entregues entre 2013 e 2018, e mais quatro Boeings 777-300ER, a serem incorporados a partir de 2012. No final de junho, a BRA, que é a terceira maior empresa do setor, disse que comprará 20 jatos da Embraer 195, com opção para adquirir mais 20. Os primeiros começam a voar no segundo semestre do ano que vem.

No mercado internacional, a situação é vista sob outro ponto de vista. A retração da Varig, no ano passado, deixou um espaço que TAM e Gol brigam para ocupar. Na sexta-feira, a TAM anunciou que recebeu autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para ter vôos diários a Madrid, na Espanha, e vôos em três vezes na semana para Frankfurt. A Gol, por meio da Varig, pretende começar a voar para seis novos destinos internacionais até novembro. Só na Europa, Gol e TAM vão passar a competir em rotas para cinco países.

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