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Até aviões fogem de tiroteio

Batalha de traficantes mudou rota da ponte aérea. Jô Soares estava em uma das aeronaves

Andréia Lopes, Christina Nascimento e Fábio Dobbs – O Dia

Rio - A guerra do tráfico nos morros Chapéu Mangueira e da Babilônia, no Leme, alterou até a rota de aviões da ponte aérea Rio-São Paulo. Sexta-feira, registro feito no livro de ocorrência da torre de controle do Aeroporto Santos Dumont, no Centro, revela que pilotos mudaram o percurso das aeronaves devido ao intenso tiroteio na Zona Sul. Em um dos vôos estava o apresentador Jô Soares. É a primeira vez que esse desvio é feito devido à violência, segundo a Infraero.

O humorista contou sobre a mudança do trajeto em seu programa, da Rede Globo, que foi ao ar ontem de madrugada. Ele saiu às 19h25 do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, num Boeing 737, da Gol, que tinha chegada prevista para 20h15. Jô Soares veio ao Rio para apresentar um espetáculo. “O avião atrasou 30 minutos porque teve que contornar o Leme em virtude de um intenso tiroteio”, comentou ele, no programa, quando entrevistava o deputado federal Onix Lorenzoni.

A Infraero confirmou que houve mudança de rota e que a alteração ocorreu a pedido do piloto daquele vôo, que teria ficado assustado após ler notícias sobre o confronto nas duas favelas.

O órgão, no entanto, nega que outros aviões tenham mudado o percurso aéreo, apesar do registro no livro da torre. Segundo o livro, “aeronaves para pouso na pista 02 (Enseada de Botafogo), devido ao tiroteio próximo ao Leme, tiveram que pousar por Niterói”.

O medo é porque, ao fazer a curva para chegar ao aeroporto, antes da Enseada de Botafogo, o avião ficaria exposto ao tiroteio. “Os tiros vindos do Leme poderiam atingir a aeronave. Ao girar em Botafogo, a fuselagem fica virada para Copacabana”, explicou um controlador de vôo do Santos Dumont.

Na rota alternativa, os aviões passam pela Ponte Rio-Niterói. A desvantagem é que o piloto não tem visão total da pista, que fica à direita do co-piloto. Por isso, a rota é pouco usada, apesar de não apresentar risco para passageiros.

Ontem, Jô Soares se negou a comentar o assunto, alegando que não queria estender a polêmica. A empresa Gol disse que somente hoje falaria sobre o episódio.

Sexta-feira, a troca de tiros entre quadrilhas rivais do tráfico aterrorizou a região — até balas traçantes puderam ser vistas.

PÂNICO PROVOCADO PELA DISPUTA ENTRE FACÇÕES

Ontem, o dia foi de trégua nas favelas do Leme. Desde terça-feira da semana passada, moradores do Chapéu Mangueira e da Babilônia viveram momentos de pânico. Traficantes rivais da Rocinha e do Vidigal, controlados pela facção Amigos dos Amigos do Lulu (ADALL), invadiram as duas comunidades e expulsaram integrantes do Comando Vermelho (CV).

O bando chegou em vários carros e numa van branca e impôs toque de recolher aos moradores. Creches e escolas da comunidade chegaram a fechar. Um ex-pára-quedista que atua no tráfico da Rocinha teria participado do ataque.

Uma dona-de-casa contou que os traficantes picharam paredes das casas com o nome das favelas de onde vieram e teriam a obrigado a cozinhar e a lavar roupas para eles durante três dias.

Há informações de que os invasores teriam fugido pela mata e saído por uma vila da Avenida Princesa Isabel, em Copacabana.

Dois furos em outra aeronave

O apresentador Jô Soares contou ainda, em seu programa, que uma aeromoça disse que, dois dias antes — quarta-feira —, outro vôo da ponte aérea foi suspenso porque havia dois furos provocados por projéteis na fuselagem do avião. Os danos teriam sido constatados durante inspeção externa da aeronave. “Quer dizer: se pega no tanque de combustível, babau o avião”, ainda tentou descontrair o humorista, sem citar em qual empresa teria acontecido o episódio.

A Infraero afirma desconhecer o caso. A Gol diz que nenhuma das suas aeronaves foi alvo de tiros. A TAM nega que o fato tenha ocorrido com seus aviões.

Sobre a mudança na rota do avião onde viajava Jô Soares, o presidente do Sindicato Nacional dos Controladores de Vôos do Rio de Janeiro, Jorge Botelho, é enfático: “É possível que tenha acontecido para desviar de tiroteio”. A Aeronáutica afirmou que a torre de controle do Santos Dumont é de responsabilidade da Infraero e que aguarda informações do órgão para apurar o caso.

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