Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que negociou com os controladores de vôo grevistas, mudou nesta terça-feira (3) o discurso que colocou fim à greve nos aeroportos. Na sexta-feira (30), quando a categoria cruzou os braços, o ministro divulgou um acordo que, em seu primeiro item, garantia que ninguém seria punido. Nesta terça, ele afirmou que em nenhum momento o governo federal assegurou anistia para os militares.
"Não falamos nada de anistia nem hoje e nem na sexta-feira. Ninguém mencionou esta palavra. Só vejo isso nos jornais", disse o ministro, após reunião realizada na manhã desta terça-feira com representantes dos controladores.
Na sexta, após anunciar um acordo com a categoria, o governo divulgou uma minuta de negociação assinada pelo ministro Paulo Bernardo e pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. O primeiro item da minuta era o seguinte: "O Governo Federal fará a revisão dos atos disciplinares militares, tais como transferências, afastamentos e outros, envolvendo representantes de associações de controladores de tráfego aéreo, ocorridos nos últimos seis meses, assim como assegura que não serão praticadas punições em decorrência da manifestação ocorrida no dia 30.03.2007."
Questionado se os controladores de vôo poderiam ser presos, o ministro do Planejamento afirmou que o governo vai investir no diálogo e na tranqüilidade. "Não vamos investir em um clima de botar fogo no circo", disse. Ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se recusa a conversar e a dialogar com qualquer categoria, mas acrescentou que não é possível fazer uma negociação "complexa em clima de desconfiança".
Situação atípica
O ministro do Planejamento disse ainda que a negociação ocorrida na sexta-feira com os controladores foi feita em meio a uma "situação completamente atípica" e "claramente fora do controle". "Eu fui para garantir um espírito de mais tranqüilidade e para que as coisas se acalmassem e o tráfego aéreo fosse retomado", afirmou. Bernardo acrescentou que, por isso, atingiu seus objetivos.
"Nas circunstâncias, foi o que pudemos fazer. Estou muito tranqüilo com relação a isso. Era um momento mais grave ainda porque o presidente Lula estava fora do país e tínhamos que tomar medidas graves sem ele. Agora, vamos ouvindo a orientação do presidente da República", disse ele, que tem reunião agendada para a manhã desta terça-feira (3) com Lula.
Segundo Paulo Bernardo, a orientação do presidente Lula é que haja negociação sobre os pleitos do setor - que são a desmilitarização da carreira de controlador aéreo e reajuste salarial. "O governo vai negociar, mas exigimos que haja condição de absoluta normalidade no funcionamento do sistema de tráfego aéreo", afirmou.
Faca no pescoço
O ministro do Planejamento afirmou ainda que as mudanças deverão ser feitas somente depois de ouvir todos os representantes do setor, mas não citou prazos. "Queremos ouvir todas as partes, mas não podemos fazer isso com faca no pescoço e debaixo de ameaça", disse. Bernardo não informou se foi marcado um novo encontro.
Bernardo também disse aos representantes dos controladores que seria difícil negociar com "constantes ameaças de retomada de movimento, de fazer greve novamente, de transformar a Páscoa em um inferno". Acrescentou que sentiu dos interlocutores uma "receptividade boa". "Temos condição de continuar bem este diálogo", disse.
Os representantes dos controladores aéreos deixaram o local sem falar com a imprensa. Eles optaram por deixar o Ministério do Planejamento pela garagem.
O pior dia da crise
Desde o início da crise aérea, em 29 de setembro do ano passado, quando ocorreu o acidente com o avião da Gol, que deixou 154 mortos, houve atrasos, cancelamentos de vôos, panes em torres de controle e em painéis de informação. O pior dia, no entanto, foi a sexta-feira (30), quando cerca de 200 controladores de vôo cruzaram os braços e anunciaram a paralisação das atividades nos 49 aeroportos comerciais de todo o país.
O caos se instalou nos saguões dos aeroportos. Brigas entre passageiros e atendentes de empresas aéreas fizeram com que a segurança fosse reforçada.
O governo iniciou as negociações de maneira dura, inclusive com o anúncio da possível prisão dos controladores militares aquartelados na sede do Cindacta-1, em Brasília. Diante da inflexibilidade dos grevistas e do caos nos aeroportos, o governo cedeu às pressões e anunciou acordo no início da madrugada de sábado (31).
Os vôos foram retomados na manhã de sábado, mas um terço dos vôos programados entre meia-noite e 14h registraram atrasos. Milhares de passageiros passaram a noite sobre as bagagens nos corredores dos aeroportos.