Tu-104A ficou à própria sorte por 30 anos. Agora, ele está sendo restaurado e ganhou vida nova graças à cientista Maria Karmanova.


Ksênia Zubatcheva | Russia Beyond

Como qualquer outra máquina, os aviões inevitavelmente são retirados de serviço. Alguns são enviados para reciclagem, outros, transformados em museus, e os menos afortunados são simplesmente abandonados em campos abertos destinados à decomposição, sob sol, chuva e neve.


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O Tu-104A em Berdsk. Foto de 2017 | Aleksandr Listopad

Uma aeronave enferrujada em um pequeno aeródromo na Sibéria, perto da cidade de Novosibirsk, estava pronta para ser largada à própria sorte para se decompor, mas a jovem, Maria Karmanova, de 34 anos, resolveu lhe ajudar a ganhar vida nova.

Maria Karmanova | Alexey Gol'shev

Mas ela não é qualquer aeronave. Parte da lendária série da Aeroflot Tupolev Tu-104 e o primeiro avião de passageiros soviético a jato na frota aérea civil soviética, ela também se tornou símbolo da liderança tecnológica do país sobre o Ocidente.

O Tu-104 foi, por um breve período, o único avião a jato operacional do mundo, entre 1956 e 1958, e esteve em operação a todo vapor até o final da década de 1970.

O Тu-104А СССР-42382 no aeroporto britânico de Heathrow, em meados de 1959. Archive Photo

Em 2009, Karmanova, que é doutora em Matemática e pesquisadora-chefe no Instituto de Matemática Sobolev, em Akademgorodok (uma das "cidades científicas" russas), descobriu o avião abandonado em um aeródromo na cidade de Berdsk (a 36 quilômetros de Novosibirsk).

O Tu-104A com o número de registro CCCP-42382 estava enferrujando ali havia três décadas, e tinha sido enviado a Berdsk em junho de 1978. Em agosto do mesmo ano, foi aposentado após 20 anos em serviço.

“Frequentei muitas conferências no exterior e acabei me apaixonando por entrar em aviões e pela aviação em geral. Quando encontrei este Tu-104A em Berdsk e tive a oportunidade de entrar na cabine, fui imediatamente para lá”, disse Maria ao Russia Beyond.

Mas Maria ficou desapontada com o estado do avião. Ele estava sendo usado como depósito na época, e a cabine estava cheia de roupas velhas, caixas, pilhas de papeis etc.

Muitas partes da aeronave também estavam faltando ou danificadas, e o rádio e os sistemas de navegação tinham sido destruídos.

“Fiquei pensando que a aeronave merecia estar em um estado muito melhor. Por isso, decidi restaurá-la e deixá-la o mais perto possível do estado em que estava quando chegou a Berdsk. Eu também estava interessada em aprender mais sobre sua história e encontrar o vídeo de sua chegada em Berdsk”, conta Maria.

Ela não tinha qualquer experiência em restaurar aeronaves, mas tomou para si este desafio. Como cientista, ela tinha experiência em pesquisa e em resolver problemas com muitas incógnitas.

Maria reuniu o máximo de literatura possível, leu tudo e contatou capitães que tivessem experiência em pilotar o Tu-104. Ela buscou as peças que faltavam on-line e em mercados de segunda mão, consertando a aeronave peça por peça.

Encontrá-las não foi tarefa fácil. “Este é foi principal desafio. Se a mesma aeronave for produzida por diferentes fábricas, as peças podem ser diferentes ”, explica.

Maria deixa notas para especificar quais peças estão faltando. Foto do painel do capitão de 2009 | Maria Karmanova

Desde 2009, Maria e outros entusiastas que se interessaram pelo projeto fizeram verdadeiros progressos na reforma da aeronave, e chegaram até mesmo a encontrar o histórico vídeo de seu derradeiro voo (assista aqui)!

Painel do capitão restaurado por Maria em 2017 | Maria Karmanova

“A principal parte do equipamento da cabine foi restaurada. Agora, nosso objetivo é fazer tudo funcionar: iluminação, rádio, intercomunicação. Além disto, também precisamos encontrar tudo o que ainda está faltando. Ainda estamos buscando, por exemplo, uma roda de controle esquerda original”, diz Maria.

A cabine também está sendo reformada. No ano passado, a equipe de Maria encontrou e consertou dois assentos dos anos 1950 e 10 dos anos 1970, substituiu o isolamento e achou painéis de iluminação originais para a cabine.

Painel da frente. Foto de 2017 | Maria Karmanova

"Quase 95% dos equipamentos foram comprados por mim mesma. Agora temos uma pequena equipe de pessoas que pensam da mesma forma e muitas vezes recebemos ajuda de outros interessados em nosso projeto. Às vezes, as pessoas vêm em grupos e ajudam bastante com trabalho ”, conta.

Amigos e colegas de Maria também apoiam o projeto. "Todo mundo gosta, eles tiram fotos dentro do avião e com ele ao fundo. O interesse é sempre muito favorável", diz.

Imaginar que este avião será capaz de voar novamente é exagero, é claro. Maria continua a sonhar, mas por enquanto ela está focada apenas em reformar a aeronave.

Levá-la aos céus exigiria muito dinheiro, inspeções, autorizações e trabalho técnico.

“Por enquanto, o plano é transformá-la em um museu onde tudo funcione”, conclui.

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