Falta de conforto na classe econômica aumenta conflitos entre passageiros.
Fabricantes tentam compensar criando cadeiras com recursos tecnológicos.


Reuters

Companhias aéreas estão colocando ainda mais assentos na classe econômica dos aviões para proteger suas margens de lucro em época de queda no preço dos bilhetes, gerando preocupações sobre a saúde e a segurança de passageiros e da tripulação.

Design com linhas finas, mais saídas de emergência e a colocação de banheiros e cozinhas em lugares criativos fazem parte desse processo que permite ganhar espaço para espremer mais cadeiras, afirmam observadores da indústria.

Assentos de avião em feira de Hamburgo (Foto: Fabian Bimmer/Reuters)Assentos de avião em feira de Hamburgo (Foto: Fabian Bimmer/Reuters)

“Há várias regras específicas para o transporte de animais, mas isso não acontece no caso dos seres humanos”, disse Charlie Leocha, chefe do grupo de consumidores Travelers United, a um comitê do governo dos EUA que examina o assunto.

A distância de um assento para o outro à frente e ao lado encolheu para 71 centímetros em alguns voos, quando o mais comum são 81 cm na classe econômica, de acordo com fabricantes de cadeiras.

As empresas Boeing e Airbus estão aumentando o número de assentos por fileira. Além disso, as companhias aéreas melhoraram o gerenciamento e a venda de bilhetes e estão lotando mais as aeronaves, o que significa que os assentos do meio raramente ficam vagos, aumentando o desconforto.

Algumas companhias aéreas de baixo custo, como Allegiant, Ryanair e Spirit, também optam por assentos que não reclinam, que são inclusive mais baratos de fabricar.

O número de passageiros de cada tipo que um avião pode levar é definido principalmente pela rapidez com a qual as pessoas podem sair da aeronave em uma emergência – daí o maior número de saídas de emergência criadas quando mais assentos são incluídos.

Conflitos no ar

O papel dos fatores econômicos é claro. A expectativa é que o preço médio dos bilhetes caia 5% neste ano, de acordo com a IATA, enquanto companhias aéreas devem ter a maior margem de lucro líquido em 5 anos. Mas o impacto na saúde e na segurança ainda está sendo discutido.

A falta de espaço tem provocado mais conflitos por “air rage”(termo em inglês para definir a raiva que toma alguns passageiros em viagens de avião). Foi o que afirmou Julie Frederick, da Associação de Comissários de Bordo Profissionais dos EUA, em uma audiência do comitê para a proteção do consumidor na aviação, em Washington.

No último ano, vários voos tiveram que ser desviados depois que passageiros se envolveram em brigas relacionadas à reclinação de assentos e à falta de espaço para as pernas.

O espaço diminuto também dificultou para a tripulação lidar com pessoas que precisam de ajuda médica, disse Julie.

Keith Hansen, diretor da companhia de baixo custo Allegiant, afirmou na audiência que ele não acredita que a maior densidade de cadeiras esteja aumento o risco em caso de uma evacuação. “Não acreditamos que haja risco aumentado na segurança em caso de uma evacuação de emergência. Todas as aeronaves são aprovadas e certificadas por órgãos competentes”, disse.

Tecnologia para compensar

A empresa Zodiac e outros fabricantes de assentos tentam dar compensações a passageiros da classe econômica: suportes para tablets, tomadas nos assentos e outros extras foram exibidos na Exposição de Interior de Aeronaves na última semana , em Hamburgo.

A marca alemã Recaro mostrou assentos com descansos para os pés, conexão USB e tomadas, um descanso de cabeça moldável, um monitor de 13,3 polegadas e iluminação suave.

Já a Panasonic Avionics tem trabalhado com a fabricante de assentos B/E Aerospace e uma nova cadeira para a classe econômica chamada Jazz, que inclui um discreto sinal de “não perturbe” e carregador para eletrônicos.

"As companhias aéreas estão adicionando benefícios aos assentos da classe econômica para te fazer esquecer rapidamente o quão apertado você está”, diz Jason Rabinowitz, gerente de pesquisas do Routehappy, que ranqueia as cabines de voos. “Quanto mais os assentos encolhem, mais tecnologia eles ganham. A questão é se os passageiros vão mesmo se esquecer do desconforto”, afirmou.


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