Valor
De Moscou
A Embraer receberá hoje certificação da Rússia para seus jatos regionais E-190 e 195, de 90 a 124 assentos, entrando no mercado russo, em um segmento com potencial de aquisições de até US$ 15 bilhões nos próximos 20 anos. O anúncio coincidirá com a presença da presidente Dilma Rousseff na capital russa, concluindo um processo de três anos, retardado por causa da preocupação do governo Putin com o impacto sobre a produção local de jatos regionais.
"Trata-se de um tremendo potencial", afirmou o vice-presidente de relações institucionais da Embraer, Jackson Schneider, sobre a certificação. Os jatos menores da Embraer já têm o sinal verde para venda. Estudo da Embraer projeta crescimento de 5% a 6% do mercado de jatos regionais na Rússia até 2030. O país precisará de 445 novos jatos regionais de 33 a 120 assentos. Isso representa 7% do mercado global desse segmento.
No caso dos aparelhos E-190 e 195, a necessidade russa é estimada em 300 aparelhos em 20 anos, representando de US$ 12 bilhões a US$ 15 bilhões de negócios.
A Embraer abriu escritório em Moscou, de olho numa expansão rápida de negócios. "O mercado russo está muito pulverizado, com muitas companhias, e há muito potencial para a Embraer", disse o embaixador do Brasil na Rússia, Carlos Paranhos. Conforme o diplomata, a Embraer quer tanto obter encomendas para linhas de longos voos como planeja exploração de leasing de aparelhos de menor porte, aproveitando os planos de substituição da frota russa, que está ficando cada vez mais defasada e de manutenção custosa.
Paranhos confirmou que a Embraer chegou a abrir conversas com produtores regionais russos sobre produção conjunta, mas isso não prosperou. Agora, segundo o diplomata, há projetos de eventual produção sob licença de aviões da Embraer no Tatarstão, uma das repúblicas da Federação Russa.
"Há mercado para todos", comentou Jackson Schneider, ao ser indagado sobre a concorrência com o Sukhoi, o jato regional que a Rússia tenta desenvolver e que também terá cem assentos.
Outro fabricante brasileiro que tentará explorar o mercado russo é a Marcopolo, maior construtora de ônibus do país, que lançará o primeiro veículo produzido em parceria com a empresa russa Kamaz. O veículo tem tecnologia e design brasileiros. Um ônibus será colocado em frente ao hotel Ritz, onde está hospedada a presidente Dilma Rousseff.
O embaixador brasileiro em Moscou, Carlos Paranhos, destaca que empresas dos dois países demonstram crescente interesse nos mercados recíprocos.
A Gazprom, o gigante russo estatal de energia, abriu um escritório no Rio de Janeiro e tem interesse em participar, com a Petrobras, da exploração de fatias do pré-sal, aproveitando sua tecnologia na área de gás. A presidente da Petrobras, Graça Foster, acompanha a presidente Dilma a Moscou para discutir eventual cooperação com os russos.
A companhia TNK-BP adquiriu uma fatia de empresa brasileira para exploração de petróleo na área do rio Solimões, na Amazônia. Severstal e Mechel, do setor siderúrgico, tambem têm participação em companhias brasileiras.
Por seu lado, o grupo JBS continua produzindo carne industrializada na Rússia, inclusive para o Mc Donald"s, segundo o embaixador. A Weg, produtora de motores, ampliou os negócios no país.
Os russos querem aproveitar a visita de Dilma também para vender armamentos. Fora do projeto FX2, de compra de 36 jatos de combate, os russos querem vender sistemas de defesa antiaérea, participar de construção de usinas nucleares e tambem da reconstrução da base aeroespacial de Alcântara, no Maranhão. (AM)