Por Alberto Komatsu | Valor
De São Paulo

 
Após uma redução de 50,5% no preço médio das passagens aéreas, nos últimos 10 anos, as companhias aéreas farão em 2013 um reajuste de até 15%. A projeção é da consultoria Bain & Company, que fez um estudo da evolução da aviação comercial brasileira nos últimos 10 anos, de 2003 a 2012. Em outubro, a TAM, a maior companhia aérea do país, já havia divulgado que as tarifas "precisam" de um aumento de 10%, no ano que vem.

 
O especialista em aviação da Bain, André Castellini, diz que 2013 será um ano de continuidade adequação de oferta e tarifas a um patamar elevado de custos. Este cenário se mantém mesmo com o cancelamento do aumento de 86% nas tarifas de navegação aérea, previsto para janeiro. Essa medida integra um pacote de incentivo ao setor aéreo, principalmente na infraestrutura de aeroportos, anunciado pelo governo no dia 20 de dezembro.

 
Segundo Castellini, o cenário de reajuste nos preços das passagens de até 15% considera que Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 3% no ano que vem. Também prevê tendência de aumento nos preços do petróleo e depende do comportamento da cotação do dólar em relação ao real.

 
Com as passagens aéreas mais caras, a demanda doméstica corre risco de oscilar entre zero e queda de até 5%, o pior resultado desde 2003, quando o fluxo de passageiros teve recuo de 6% nos voos domésticos. Contribui para esse quadro a continuidade da redução de oferta, acrescenta Castellini, iniciada neste ano pela Gol e pela TAM.

 
"Num cenário mais otimista, pode haver um aumento de demanda entre 5% e 10%, mas com a empresas fazendo promoções nos preços de passagens fora do horário de pico e um crescimento do PIB acima de 3%", afirma Castellini.

 
O especialista lembra que em qualquer um dos cenários, a oferta de assentos nos voos domésticos vai continuar encolhendo - movimento iniciado neste ano por TAM e Gol. No primeiro caso, o corte é de 4,5% em 2012. Na TAM, de 2%. Para 2013, as duas companhias já anunciaram a continuidade desse processo, entre 7% e 8%.

 
O estudo, com dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mostra que o número de passageiros do transporte aéreo triplicou, de 37 milhões, em 2003, para, segundo projeção da Bain, 107 milhões neste ano.

 
Além da classe C, do crescimento do PIB e do aumento do poder de renda, em 10 anos, contribuiu para a expansão do número de passageiros da aviação o crescimento da aviação regional. De 2008 a 2011, a oferta de assentos no mercado regional, em relação à oferta doméstica total, aumentou de 3,3% para 7,4% nesse período.

 
"Grande parte do crescimento da aviação regional se deu com o surgimento da Azul [em dezembro de 2008]", disse Castellini. Em quatro anos de operação, com a incorporação da Trip, a Azul já responde por quase 14% da demanda doméstica, Ele lembra que o padrão mundial para caracterizar uma operação aérea regional é a utilização de aeronaves com capacidade entre 30 e 100 assentos. A operação da Azul é realizada com aeronaves que se enquadram nesse padrão.

 
Como curiosidade, o estudo da Bain mostra que a representatividade da aviação regional brasileira é próxima à dos Estados Unidos. "Levando-se em conta a oferta de assentos de voos regionais em relação ao total, a taxa do Brasil, de 7,4%, não está muito distante da americana, de 9,86%", afirmou Castellini.

 
O pacote de estímulo do governo ao setor aéreo também incluiu um investimento de R$ 7,3 bilhões para 270 aeroportos de pequeno porte, destinados à aviação regional.

 
O estudo da Bain chama a atenção para o descompasso entre as taxas de crescimento da infraestrutura aeroportuária e da demanda por voos domésticos. De 2005 a 2009, o aumento de capacidade dos aeroportos do país foi de 7%. O fluxo de passageiros transportados em voos nacionais, por sua vez, teve expansão de 16% no mesmo período. "Pouco se fez pelo crescimento da infraestrutura dos aeroportos", diz Castellini, que viu com bons olhos o pacote de investimentos e incentivos anunciado pelo governo na semana passada.

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