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O novo desenho dos aeroportos

Luis Nassif Online

Antes da venda das concessões de aeroportos pelo governo, técnicos se debruçaram sobre o negócio aeroporto, visando entender suas características.

Conversei com um dos responsáveis pelos estudos.

Cada aeroporto tem uma característica diferente. Pelos padrões internacionais, a média de margem operacional (excluindo investimentos) é de 40% sobre as receitas líquidas.

Já as receitas são constituídas de tarifas e de atividades não-tarifárias - exploração do espaço interno e externo do aeroporto, serviços adicionais para passageiros e companhias aéreas etc.

As tarifas são um percentual do preço da passagem aérea - de 10 a 20% do preço total. Portanto a receita dependerá do fluxo de passageiros. Nas tarifas estão os passageiros nacionais, internacionais e as cargas. Já as receitas não-tarifárias permitem exercitar novos modelos de negócios.

Cada aeroporto terá que encontrar sua vocação.

Guarulhos, por exemplo, já tem uim fluxo de caixa consolidado, forte presença de vôos internacionais e parte relevante de transporte de cargas.

Brasília é um hub (local que recebe e distribui passageiros) predominantemente nacional, embora com um aumento recente de vôos internacionais.

Já Viracopos é um aeroporto em crescimento que competirá com Guarulhos. Em um ponto qualquer do futuro - possivelmente em 2031 - Guraulhos terá ocupado toda sua capacidade e o crescimento será todo de Viracopos.

Em Guarulhos a maior parte da receita ainda é tarifária - 60% contra 40% da não-tarifária. Mas, por ter voo internacional e ser um hub, há maior tempo de permanência do passageiro em terra, o que aumenta sua propensão a consumir.

Na divisão das áreas internas, a arquitetura não segue padrões mais modernos de gestão de aeroportos - que tendem a reduzir a área de acesso (check-in, passaporte, segurança etc) e aumentar a área de embarque. Com tranquilidade, sabendo-se perto do portão de embarque, sem receio de perder o vôo o passageiro relaxa e pode usar o tempo de espera para consumir.

Der acordo com os estudos, em um aeroporto a propensão a consumir é o dobro do que quando o cliente entra em um shopping normal, de rua.

Tornar o embarque mais rápido exige negociação com demais autoridades que dividem o espaço – Receita, Polícia Federal, Anvisa. A Infraero já havia avançado em alguns programas de qualidade, criando a Sala do Gestor, que reúne todos esses agentes para pensar sistemicamente o aeroporto.

Com poucos ajustes, estima-se que se poderia aumentar de imediato de 15 a 20% a área para passageiros do aeroporto de Guarulhos.

O edital de licitação não definiu valores de investimento. Focou em indicadores de qualidade – analisando desde a qualidade direta de cada serviço até pesquisas de opinião para saber o grau de satisfação do passageiro.

Esse conjunto de indicadores objetivos resultará ou em melhoria da rentabilidade do concessionário ou em punições progressivas, que podem terminar com a caducidade da concessão. Assim, os investimentos programados serão os necessários para manter elevados os índices de qualidade.
Competição como redutor de preços

Segundo os técnicos, os preços serão regulados pela competição. Viracopos concorrerá com Guarulhos e, espera-se, a competição levará à redução dos preços. Quem define o local de embarque é a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), ao programar os voos. Os técnicos sustentam que, com mais áreas disponíveis, haverá mais espaço para novas operadoras. Os próprios aeroportos tratarão de disputar as melhores companhias. 

 
Serviços internos

Nos aeroportos existem as lojas de bens duráveis e não-duráveis, que não são de primeira necessidade. Mas a parte de alimentação é prioritária. E hoje se observa a cartelização dos preços e da má qualidade de serviços. Segundo os técnicos, haverá espaço para reclamação junto à ANAC, além da pressão da avaliação dos usuários no resultado final de cada aeroporto. De qualquer modo, é um problema atual. 

 
Estimativa de demanda

Atualmente Guarulhos atende 16,5 milhões de passageiros para vôos domésticos e 10 milhões para internacionais. As projeções dos técnicos é que, para final de 2014, chegue a 23 milhões domésticos e 15,6 milhões internacionais. Em 2031 chegaria ao limite e teria um crescimento residual até 2041. Nesse período, no entanto a tendência é o surgimento de muitos hubs novos no país. 

 
Os aeroportos regionais

Os técnicos estimam que a situação do Brasil, hoje, é similar à dos Estados Unidos de 30 anos atrás. A tendência será a criação de hubs e de aeroportos regionais. Recentemente visitaram o Chile e constataram que, descontando investimento em pistas, a construção e operação de um terminal é rentável mesmo com baixa demanda, de 200 mil passageiros.ano. Poderá haver uma explosão de concessões regionais.
O ágio do leilão

Mesmo com todos esses estudos, os técnicos se surpreenderam com o ágio pago pelas vencedoras do leilão. Nas próximas semanas irão se debruçar sobre os planos de negócio. Mas, pela experiência dos operadores que fazem parte dos consórcios, acreditam que descobriram diversas possibilidades a mais de receita, impossíveis de serem identificadas em apenas um trabalho técnico. De qualquer modo, o pagamento será em 20 anos. 

 
A operadora argentina

Jornais questionaram o papel de uma operadora argentina que participou de um dos consórcios vencedores. Saíram informações de que ela não cumpriu com compromissos acordados com o governo argentino. Os técnicos visitaram um aeroporto administrado por ela e constataram que era bem gerido. Os problemas registrados ocorreram devido ao terremoto que sacudiu a Argentina com o fim da Lei da Conversibilidade, que afetou praticamente todos os contratos nacionais.

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