Por Juan Garrido | Para o Valor
SÃO PAULO - De acordo com um estudo da Bain & Company, se o Brasil crescer, em média, 3,5% ao ano, o volume de transporte aéreo no país irá triplicar até 2025. Pelas estatísticas da estatal Infraero, que administra 66 aeroportos brasileiros, foram registrados 163,5 milhões usuários aéreos de janeiro a novembro de 2011. “São Paulo continuará sendo o principal gargalo”, diz André Castellini, sócio-diretor da Bain, para quem, além da modernização do Aeroporto de Congonhas e das expansões dos de Guarulhos e Viracopos, São Paulo requer a construção de um novo aeroporto.
Segundo Castellini, o grande desafio a ser enfrentado pelo saturado sistema aeroportuário paulista é muito mais abrangente que o representado pela simples urgência de reunir condições para absorver o volume adicional de passageiros gerado durante os 30 dias de disputa da Copa do Mundo de 2014. Para ele, o problema é o dia a dia, aqui e agora. “A Copa é um problema pequeno e momentâneo em relação à importância do bom atendimento aeroportuário para o futuro da economia paulista.”
Pelos dados enviados pela Infraero para esta edição, os investimentos atuais nos três aeroportos paulistas somam R$ 2,191 bilhões. O menor investimento, de R$ 14 milhões no Aeroporto de Congonhas, foi para a construção da nova torre de controle – já concluída.
No Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos os investimentos somam R$ 1,3 bilhão. Estão divididos em seis intervenções: ampliação e revitalização do sistema de pista e pátio, atualmente aguardando perícia judicial (com término previsto para dezembro de 2013); ampliação e revitalização do sistema de pistas (obra concluída); construção de pistas de taxi e de saída rápida (licitação em andamento e previsão de conclusão da obra em março de 2013); implantação da fase 1 do terminal 4 (em execução e com conclusão prevista para este mês); implantação da fase 2 do terminal 4 (publicação do edital prevista para este mês e término da obra em dezembro de 2012); construção da fase 1 do terminal de passageiros 3 (obras de terraplanagem em execução e conclusão prevista para novembro de 2013).
Já o investimento total no Aeroporto Internacional de Campinas/Viracopos é de R$ 876,92 milhões, distribuídos entre quatro ações: construção da fase 1 do novo terminal de passageiros e pátio, cujo projeto está em licitação (conclusão da obra prevista para dezembro de 2013); adequação do terminal de passageiros existente, cujos projetos já foram contratados (término previsto para outubro de 2013); implantação de módulo operacional, já concluído; sistema de pistas e pátios, cujo projeto executivo está em andamento (término da obra previsto para dezembro de 2013).
Castellini, da Bain, acha que transformar Viracopos no aeroporto paulista mais importante não chega a ser uma meta viável – mesmo que se ampliasse sua infraestrutura de forma portentosa – porque Campinas fica muito longe da capital (cerca de 100 quilômetros). “Nenhuma cidade dentre as 25 maiores do mundo é servida por um aeroporto tão afastado quanto Viracopos”, argumenta, citando que no Japão o aeroporto de Narita fica a 65 quilômetros de Tóquio, e este é considerado o “campeão” em distância, no caso das megalópoles.
O executivo explica que como não é possível aumentar significativamente a capacidade em Congonhas e que as ampliações possíveis na capacidade de Guarulhos não serão suficientes, há a necessidade clara de um terceiro aeroporto com grande capacidade e apto a atender à demanda da Região Metropolitana de São Paulo.
“O que se ouve insistentemente no mercado é que os grupos Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez estão dispostos a investir num aeroporto a ser erguido do zero e que o local para a construção – num município da Grande São Paulo – já está escolhido”, cita Castellini. De fato, especialistas comentam que se trata, inclusive, de uma área reflorestada, portanto ambientalmente amigável.
Na visão do sócio-diretor da Bain, no entanto, a construção de um novo grande aeroporto é sempre um grande desafio. Implica superação de fatores construtivos, meteorológicos, de acessibilidade, de tráfego aéreo, sociais, ambientais e econômicos. Ele lista, entre os principais questionamentos que buscam respostas positivas para que seja possível seguir em frente, o de se saber se as principais companhias aéreas teriam interesse em operar nesse aeroporto. Também se a área é extensa o suficiente para abrigar uma unidade que atenda cerca de 40 milhões de passageiros/ano e que possa operar em 99% dos dias em condições meteorológicas favoráveis.
Seria importante, além disso, que a área do novo aeroporto permitisse um acesso em cerca de 60 minutos com meios próprios e com transporte público. “Outra questão relevante é saber se seria possível conciliar o trafego aéreo dessa nova unidade com o das demais unidades presentes na região e ainda aumentar o fluxo de voos, considerando a não ocorrência de impactos significativos”, acrescenta Castellini.
Ele informa que estudos sérios realizados por empresas especializadas em tráfego aéreo indicam que é possível, de fato, compatibilizar as operações de Congonhas, Guarulhos e Viracopos às de um novo aeroporto em São Paulo, aumentando o fluxo de pousos e decolagens na região. “Ainda que não haja um consenso sobre as conclusões desses estudos, eles mostram que, se houver real vontade política de achar uma solução, a nova unidade será viável”, diz.