Por Arícia Martins | Valor
De São Paulo
Os itens que figuram como vilões da inflação em 2011 não trazem grande surpresa. De janeiro a novembro, as maiores pressões sobre os preços vêm de refeição, empregado doméstico, ônibus urbano, aluguel residencial e gasolina, quando se considera o peso de cada um no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Levando-se em conta apenas as variações absolutas, sem ponderações, o ranking da inflação fica muito mais curioso. A liderança fica com as passagens aéreas, que acumulam avanço de 56,1% no período.
Após longo período de forte competição entre companhias aéreas - que pressionou a redução nos preços das passagens -, os bilhetes estão retornando a seu patamar, já que o ajuste para baixo não era sustentável, diz o economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria.
"A competição bastante intensa começou a causar problemas financeiros para essas empresas, que neste ano estão recuperando seus preços", diz o analista, para quem os reajustes devem permanecer em 2012. "A passagem aérea deve continuar figurando entre as maiores variações positivas no IPCA ao longo do próximo ano."
Em 2009 e 2010, os preços das passagens registraram queda entre janeiro a novembro, na comparação com o ano anteiro, lembra Curado. No ano passado, a deflação foi de 4,14% e em 2009, houve recuo mais acentuado, de 10,22%.
Depois de passagem aérea, a lista dos "dez mais" é dominada por alimentos. Aparecem no ranking itens com peso quase nulo dentro do índice, com destaque para o peixe piramutaba, bagre amazônico que subiu 24,8% no ano.
Encontrado no Pará, onde é pescado com rede nos rios Tapajós, Tocantins e Araguaia - já que é a única espécie do gênero que forma grandes cardumes -, o piramutaba está mais caro, porque, além de ter sido "descoberto" recentemente pelos consumidores de fora do Norte do país, encontra-se em seu período de defeso, quando a pesca é proibida para a reprodução, afirma Carlos Henrique Rocha, dono da Metaps, empresa que revende o peixe em postas para hotéis e restaurantes de Marabá (PA).
"Antes, a piramutaba era um peixe desclassificado, ninguém gostava. Agora descobriram que produz um filé muito bom. Vejo nos grandes centros pessoas comprando até os pequenos, que não eram aproveitados antes", conta Rocha, que hoje paga cerca de R$ 3,50 pelo quilo da piramutaba. Há um ano, pagava R$ 1,50, em média, diz o empresário.
Verlina Guimarães, dona da peixaria Free Center,
Há cinco anos, a empresária resolveu trocar o curimatã pela piramutaba, devido ao preço, muito mais atrativo. Verlina afirma que, mesmo com a escalada nos preços da piramutaba, ela ainda é mais vantajosa. "A troca ainda está compensando, porque o custo final para o cliente é mais baixo. A variedade de pratos que podem ser feitos com um peixe sem espinhas é maior."
Abaixo de alimentos in natura e outros também de pouco peso, como polpa de açaí, chama atenção o avanço de 20,57% em mudança residencial e de 19,56% em asilo, dois itens que fazem parte do grupo serviços, aquele que teve a maior alta em 12 meses no IPCA (9,1%). Segundo o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, a elevação no primeiro item é explicada tanto pelo aquecimento do mercado imobiliário, que ajudou o setor a elevar preços como pelo "componente serviços" em seus custos, já que a demanda forte e a renda maior abrem espaço para reajustes mais robustos no segmento.
Nos asilos, Romão cogita uma forte pressão de custos no setor, confirmada por pessoas que atuam no segmento. Bruno Venturim, proprietário da casa de repouso Cherubins, na Saúde, bairro da zona sudeste de São Paulo, elevou em 11% o preço das mensalidades dos 20 idosos de quem cuida. O reajuste ocorreu no primeiro semestre, após o aumento do aluguel e também para arcar com o maior peso dos alimentos. O economista da LCA nota que o grupo alimentação e bebidas subiu 7,29% em 12 meses, acima da inflação de 6,64% no período.
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