No ano passado, empresa ficou atrás apenas da Bombardier e da Cessna nesse segmento: para ficar mais perto dos clientes e garantir a expansão, companhia abriu este ano uma fábrica nos Estados Unidos e prepara uma unidade na China

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / GENEBRA

 
A Embraer tem avançado a passos largos no mercado global de aviação executiva. A fabricante brasileira já é a terceira maior do mundo nesse segmento, dominado há décadas por empresas europeias e da América do Norte. Em 2010, um a cada cinco aviões vendidos no mundo foi fabricado pela empresa brasileira e o jato Phenom 100 passou a ser o aparelho mais vendido do mundo.

 
Para conquistar uma fatia ainda maior do mercado e se transformar em líder até 2015, a empresa já transfere para os Estados Unidos e China parte de sua produção, para estar mais próxima do mercado consumidor, e internacionaliza sua cúpula, até hoje dominada por executivos nacionais. Além disso, US$ 100 milhões ainda estão sendo investidos para montar centros de atendimento para os donos desses jatos em todo o mundo.

 
Há quinze dias, o americano Ernest Edwards, que era responsável pela área de vendas da empresa na América do Norte e Caribe, assumiu a vice-presidência para o Mercado de Aviação Executiva, substituindo a Luis Carlos Affonso.

Com sete jatos executivos em seu portfólio, a Embraer não disfarça a dificuldade do período de crise. Na empresa, todos admitem que a crise não acabou e que uma recuperação de vendas ocorrerá apenas a partir de 2012.

 
Mas a companhia destaca que ganhou uma nova parcela do mercado nos últimos anos. Em 2005, quando vendeu seu primeiro avião executivo de pequeno porte - o Phenom -, a Embraer tinha apenas 2,5% do mercado mundial no setor. Cinco anos depois, já são 200 Phenoms em operações, além de 99 Legacys.


Participação maior. No total, 19% de todas as vendas de aviões executivos no mundo em 2010 foram abocanhados pela Embraer. O Phenom 100 ainda foi o jato mais vendido do mundo no ano, com cem unidades, cada uma no valor de tabela de US$ 3,9 milhões.

 
O bom desempenho do modelo permitiu que um total de 146 jatos da empresa fossem entregues em 2010. No ano, apenas a Bombardier (com 24% do mercado) e a Cesna (com 21%) mantiveram vendas superiores às da empresa brasileira.

 
Para este ano, a Embraer projeta a entrega de um número menor - 118 aviões. Mas a companhia aposta em sua estratégia de internacionalização como forma de estar mais próxima ao cliente.

 
"O plano é de trazer a Embraer aos mercados consumidores", explicou Edwards, sobre sua estratégia. Para isso, a divisão de jatos executivos estará baseada na Flórida, Estado que concedeu subsídios à empresa brasileira para instalar uma fábrica nos Estados Unidos, inaugurada este ano.

 
Outros quatro Estados norte-americanos foram consultados sobre as facilidades que dariam à empresa.

 
A planta na cidade de Melbourne, na Flórida, deve montar seu primeiro Phenom até o final do ano. Com 200 empregados, ela contou com investimentos de US$ 50 milhões. "O nosso centro de gravidade vai para Melbourne", disse Edwards.

 
A aposta é de que, ao trazer a Embraer para mais perto do maior mercado consumidor do mundo, a empresa possa ter facilidades em mostrar seus jatos aos potenciais compradores, sem ter de trazê-los ao Brasil.

 
A empresa garante que os aviões continuarão a ser fabricados no Brasil em sua grande maioria, e que a Flórida seria apenas um local de montagem. Os componentes também continuariam a ser enviados das instalações brasileiras.

 
Foco
 

ERNEST EDWARDS - VICE-PRESIDENTE PARA O MERCADO DE AVIAÇÃO EXECUTIVA
 
"O plano é de trazer a Embraer aos mercados consumidores."
"O nosso centro de gravidade vai para Melbourne."


Empresa aposta agora em fábrica na China
 

A segunda aposta na estratégia da Embraer de avançar na aviação executiva é o mercado chinês, potencialmente o que mais pode crescer no mundo nos próximos dez anos. Enquanto os Estados Unidos têm 12 mil jatos executivos em operação, a China soma apenas 140 - no Brasil, são cerca de 500. É com esse mercado em vista que a Embraer negocia com a empresa chinesa Avic um acordo para montar os modelos Legacy 600 e 650 e transformar a fábrica que já estava instalada no país, e que estava prestes a ser desativada, para uma unidade de produção de jatos executivos, exclusivamente para o mercado chinês.
 
Estudos da Embraer indicariam que os chineses não seriam clientes potenciais de pequenos jatos, como o Phenom, mas sim dos aparelhos maiores, com um preço que varia entre US$ 27 milhões e US$ 30 milhões. Segundo a empresa, o acordo de produção está sendo finalizado, depois que o setor de jatos executivos foi a solução para um impasse de meses e que chegou a ameaçar a permanência da Embraer na China.
 

Mercado só retoma níveis pré-crise em 2017
 
A Embraer projeta que o mercado de aviões no mundo só deve se recuperar plenamente, voltando a atingir o ponto que estava em 2008, no ano de 2017. 


Em 2007, 1,1 mil jatos foram entregues no mundo por empresas do setor. Esse número despencou para 763 em 2010 e, em 2011, ele pode ser ainda menor. Os dados foram apresentados ontem em Genebra por Cláudio Camelier, diretor da empresa.
 
"Ainda estamos na crise", disse o executivo. Sua avaliação é de que as vendas e entregas da Embraer apenas sejam retomadas a partir do segundo semestre de 2011, e que uma recuperação real ocorreria apenas em 2012.

Em dez anos, a partir de 2011, a projeção é de que o mercado de jatos movimente US$ 210 bilhões, com vendas de 10 mil unidades. Desse total, 43% estaria ainda nos Estados Unidos, movimentando US$ 90 bilhões. Para a Embraer, a crise que eclodiu em 2008 não tirou dos Estados Unidos sua força no setor aéreo.

 
A Europa continuaria sendo o segundo maior mercado, com 33% das vendas. Mas a novidade seria a Ásia, com 16% das vendas. Só a China consumirá o mesmo volume de jatos que toda a América Latina até o final da década, cerca de 6,8% do mercado mundial.

 
A retomada do mercado em 2017 não significa que os lucros não voltaram a crescer. Camelier diz que a rentabilidade já teve uma alta em 2009 mesmo e, no final de 2010, voltou aos mesmos níveis de 2007. Mas o volume do mercado teria de esperar mesmo uma década para ser recuperado.

 
Usados. Um dos obstáculos para a recuperação é a existência de uma explosão de vendas de aviões usados, um sinal claro de que empresários e companhias ainda estão tentando se desfazer do que haviam adquirido nos últimos anos diante da crise. Em 2007, haviam 700 aviões usados à venda. Dois anos depois, essa taxa chegou a 3 mil.

 
Divisão
 

US$ 210 bi deve movimentar o mercado mundial de aviões daqui a 10 anos. Desse total, 43% (US$ 90 bilhões) devem vir do mercado americano, enquanto a Europa deve ficar com 33% e a Ásia com 16%.

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