Número de acidentes envolvendo pássaros aumentou 10% em 2010, quando foram registradas 53 ocorrências

Mariana Laboissière
- Correio Braziliense
 
O número de acidentes envolvendo aeronaves e pássaros no Aeroporto Internacional de Brasília cresceu no ano passado. Em 2010, foram 53 ocorrências, número 10% superior ao registrado no ano anterior. Apesar desse índice parecer pequeno, a capital da República ocupa o segundo lugar no levantamento mais recente do Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que analisou episódios dessa natureza em 18 terminais brasileiros. O primeiro colocado é o Aeroporto de Viracopos, em Campinas (São Paulo), com uma colisão a mais.

O coronel Luiz Cláudio Magalhães Bastos, vice-chefe do Cenipa, garante que esse aumento não quer dizer que haja uma tendência de crescimento contínuo. “Não tomamos conhecimento de todos os choques que acontecem e, por isso, a análise tem que ser feita com cuidado. Por exemplo, se ocorrer um acidente grave neste ano e no ano que vem forem registrados dois, o aumento será de 100%. Não dá para traçar um comportamento”, expõe. “O trabalho feito em Brasília é de boa qualidade. Em outros aeroportos do país, nem tanto”, completa. O perigo dos acidentes de avião causados por aves foi mundialmente discutido em 2009, depois de uma ocorrência registrada em Nova York.

Para o especialista em transporte aéreo Adyr da Silva, que é professor do curso de pósgraduação de Gestão de aviação Civil da Universidade de Brasília (UnB), é preciso controlar as atividades que atraem pássaros nas proximidades dos terminais. “Os números podem ser muito maiores.

Temos que levar em conta que muita coisa não é registrada, uma vez que a contagem se baseia em relatos”, explica o especialista. “De toda forma, a verdade é que há um desrespeito muito grande à legislação nos principais aeroportos brasileiros. Isso porque são promovidas atividades de atração de aves nas áreas de segurança aeroportuária, apesar das proibições”, afirma.

Adyr refere-se a uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que veda, num raio de 20km, a implantação de atividades de natureza perigosa, entendidas como foco de atração de pássaros, assim como quaisquer outras atividades que possam proporcionar riscos semelhantes ao tráfego aéreo. No caso de Brasília, especificamente, um dos maiores atrativos para esses animais é o lixo. “Aterros sanitários, matadouros e frigoríficos não deveriam existir nessa região, mas não há fiscalização para inibir a presença deles. Na avenida L4 temos um exemplo visível. Lá existe um depósito de dejetos que, obviamente, atrai essas populações de animais”, esclarece o especialista.

O vice-chefe do Cenipa acrescenta que outras normas mais antigas que a resolução do Conama já faziam referência às restrições de atividades de atração de aves. “O desrespeito vem de muitos anos.

Não é de agora. Há menção da proibição, por exemplo, no Código Brasileiro de Aeronáutica, que é de 1986. Mas, de toda forma, se os locais forem bem administrados, a atração não ocorrerá”, afirma.

Em 2009, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB) firmaram um convênio para avaliar e executar ações com a finalidade de reduzir os fatores atrativos da fauna nos aeroportos do país.

Estudiosos procuraram mapear e quantificar os animais que habitavam essas regiões. Foi verificado quecarcarás, urubus e quero-queros são as espécies que geram maior risco à aviação local, com destaque para o primeiro grupo — os mais envolvidos em colisões. No banco de dados do Cenipa, diferentemente, são os quero-queros que aparecem no topo da lista.

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