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Câmbio e disputa de preços levam Gol a prejuízo de R$ 51,9 milhões

Sem previsão de aumentar suas tarifas até o fim do ano, empresa desenvolve novos produtos para a classe C, seguindo a Azul e a TAM


Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo

A companhia aérea Gol anunciou ontem prejuízo de R$ 51,9 milhões no segundo trimestre de 2010, depois de lucrar R$ 353,7 milhões em igual período do ano passado. A empresa credita o resultado a gastos com renovação da frota e ao efeito da apreciação do real em sua dívida. Entretanto, a empresa também teria sido afetada pela disputa de preços com as concorrentes.

O resultado ruim foi divulgado menos de uma semana depois da empresa receber uma multa de R$ 2 milhões por conta de atrasos em seus voos - o balanço, porém, refere-se a um período anterior. A empresa nega que o incidente possa ter impacto nos resultados futuros da companhia.


A concorrência acirrada impediu a Gol de aumentar tarifas entre os meses de abril e junho. "As margens da empresa vieram pressionadas", afirma Brian Tadeu Moretti, analista da Planner Corretora.

Ele ressalta que os chamados "serviços auxiliares" cresceram em importância para a Gol no segundo trimestre, tradicionalmente o período mais fraco para o transporte aéreo de passageiros. Das receitas totais da companhia, mais de 11% vieram do item, com destaque para as cargas expressas.

Segundo o analista, embora a Gol não se caracterize mais como a opção mais barata do mercado, viu-se obrigada a manter tarifas competitivas no primeiro semestre deste ano para não perder mercado para companhias menores, como Azul, Avianca e Webjet. Neste sentido, diz Moretti, a estratégia deu certo: a Gol fechou junho acima dos 40% de participação, próxima dos patamares de 2009.

Segundo dados do balanço, o gasto médio do passageiro por quilômetro voado foi de R$ 0,2087 entre abril e junho, queda de 3% sobre o valor de igual período de 2009. A tarifa média ficou em R$ 194,60, com avanço de 1% sobre o ano anterior. A taxa de ocupação dos voos ficou em 61,4%, abaixo dos 61,8% registrados de abril a junho de 2009.

Classe C. O presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, afirmou que a experiência com venda de passagens em uma loja no Largo 13 de Maio, na zona sul de São Paulo, pode se transformar em franquia. A Gol também estuda outras ações, ainda não especificadas, para ficar mais próxima da classe C. Na semana passada, a Azul anunciou que vai vender passagens em supermercados, enquanto a TAM firmou uma parceria com a rede popular de varejo Casas Bahia.

Outra medida para aumentar a receita com o movimento de passageiros virá com a parceria com a regional Noar - o objetivo é oferecer conexões no interior dos Estados para os passageiros da Gol que têm o Nordeste como destino. A parceria, que deve ser anunciada oficialmente na semana que vem, é um meio de a Gol entrar em um mercado para o qual sua frota - de aviões entre 144 e 187 assentos - não está adequada. É também uma forma de a empresa não ficar descolada da onda de profissionalização da aviação regional, na qual a TAM entrou com força após a compra da Pantanal, no início do ano.

O Banco Fator e a Link Investimentos, assim como a Planner, estão entre as corretoras que veem as perspectivas de mercado da Gol de maneira otimista. O prejuízo do segundo trimestre veio próximo da expectativa da maior parte dos analistas. Ontem, a ação PN da Gol subiu 2,23%, na contramão da Bovespa, que teve queda de 0,94%.

Com o aumento da movimentação de passageiros previsto para o segundo semestre, as corretoras dizem que a ação da aérea deverá ter performance acima da média do mercado. "Existe maior possibilidade de rentabilidade, especialmente se a recomposição dos preços das passagens vier no início do quarto trimestre", diz Moretti. Oficialmente, a Gol espera estabilidade de tarifas até o fim deste ano.

Em nota, a Gol informou que a apreciação do real gerou despesas sobre seus passivos em moeda estrangeira, que respondem por 81% da dívida. A empresa gastou também com a renovação da frota. A companhia afirma que a mudança trará benefícios de longo prazo, como a redução das despesas de manutenção. / COLABOROU MICHELLY CHAVES TEIXEIRA

RESULTADOS

R$ 1,59 bilhão foi a receita líquida da Gol no 2º trimestre, alta de 14,1% sobre igual período do ano passado

7,2 milhões de passageiros foram transportados pela Gol, com alta de 16,6% sobre 2009, período ainda influenciado pela crise internacional

61,4% foi a taxa de ocupação média da empresa no mercado doméstico, pequena queda sobre 2009

Erro em escalas gerou multa de R$ 2 milhões

Na semana passada, a Gol se viu no meio de um turbilhão que causou atrasos em voos por conta de erros na implantação de um novo software para gerar as escalas de equipes de bordo. O problema afetou passageiros em todo o País elevou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a aplicar uma multa de R$ 2 milhões à empresa.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), o problema reflete o fato de a empresa tradicionalmente trabalhar “no limite” das normas legais da carga de trabalho de suas tripulações.


Há notícias de que funcionários da empresa planejam uma greve para sexta-feira, reivindicando melhores benefícios, salários e redução da carga de trabalho. A Gol, oficialmente, diz que seu “quadro de colaboradores é condizente com as necessidades operacionais da empresa e está em linha com os padrões do mercado”.

O presidente da Gol Linhas Aéreas, Constantino de Oliveira Junior, descartou ontem que os atrasos e cancelamentos dos últimos dias tragam impacto à demonstração financeira do terceiro trimestre. “Esta Foi uma situação pontual, provocada pela implementação de um novo sistema para escala dos tripulantes. Não vai ser repetida no futuro e não é relevante para mudar as projeções em termos de custos e de receita.” / F.S. EM.C.T.

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