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Airbus caiu de barriga no mar, diz França

Relatório preliminar sobre o acidente com avião da Air France descarta que sensores sejam motivo principal da tragédia

Documento não traz conclusões sobre a causa do acidente que deixou 228 mortos na noite de 31 de maio, na rota Rio-Paris



CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Relatório preliminar das autoridades francesas que investigam a queda do voo 447 da Air France indica que o Airbus-A330 atingiu o Atlântico intacto, mas ressalta que sem as caixas-pretas provavelmente nunca se saberá o que provocou o acidente. Descartou também que os problemas com sensores de velocidade tenham sido o motivo principal da tragédia.

A queda matou 228 pessoas, que iam do Rio para Paris, na noite de 31 de maio (horário de Brasília). O avião caiu a cerca de 1.100 km da costa brasileira, em águas internacionais.

Segundo o BEA (Birô de Investigações e Análises), o estudo dos 640 destroços recolhidos indica que o Airbus tocou a água em "forte aceleração vertical" e "em atitude de voo". Ou seja, caiu de barriga, embora não seja possível dizer com qual ângulo.

A conclusão decorre do fato de algumas peças, como um pedaço do assoalho do avião e as galerias em que são colocadas bandejas do serviço de bordo, estarem deformadas indicando tal impacto. Foi descartada uma explosão: não foram localizados indícios de fogo ou explosivos nos destroços.
Não se sabe se houve despressurização da cabine, apesar de uma das mensagens automáticas emitidas pelo Airbus ter indicado isso. O laudo necroscópico das vítimas pode ajudar a esclarecer isso, mas os franceses cutucaram as autoridades brasileiras ao afirmar que não tiveram acesso a eles.

"O pedido já foi foi feito às autoridades brasileiras, mas ainda não há uma data prevista para recebermos", disse Alain Bouillard, do BEA.

Por ora, tudo o que há são as 24 mensagens automáticas enviadas nos cinco minutos finais em que o avião tinha esse sistema funcionando.

A falha nos sensores, que pode ter influenciado em decisões erradas do computador ou dos pilotos, foi descartada pelo BEA como causa central do acidente. "Os sensores de velocidade não foram descartados da sequência [de fatos] que conduziu ao acidente. Suspeitamos que os pitots possam ter alguma ligação com a incoerência das velocidades medidas", afirmou o investigador.

Tubos pitots são um dos sistemas que recolhem dados de velocidade do avião. Seu congelamento é possível em alta altitude, se houver defeito no aquecimento, e isso pode levar a leituras de computador que acelerem ou diminuam demais a velocidade do avião. A Air France trocou os sensores nos seus A330 e A340.

Para Bouillard, "essa incoerência das velocidades levou à perda do piloto automático e de alguns mecanismos de auxílio de navegação". Ele diz que o aviso de falha no leme ocorreu devido ao problema com a velocidade, apesar de ele ter sido enviado como mensagem dois minutos antes.

O BEA acredita que o estabilizador vertical, a grande peça da cauda que foi encontrada arrancada do corpo do Airbus, tenha se desprendido devido ao impacto na água.

Além dos destroços e mensagens, foram analisados testemunhos de tripulantes de outros três aviões que fizeram a mesma rota naquela noite.

O BEA também levantou dúvidas, laterais em relação ao acidente, ao analisar as comunicações dos controladores de voo. Para Bouillard, não foi "normal" a demora de seis horas entre o desaparecimento do avião e o início do alarme de desastre e respectivas buscas.

O avião fez o último contato por rádio com o Brasil às 22h33 de domingo, quando passou sobre o ponto virtual Intol (a 565 km de Natal). Deveria entrar em contato novamente às 23h20 no ponto Tasil (1.200 km de Natal), a fronteira entre a área sob controle brasileiro e a região sob responsabilidade do Senegal. A partir das 23h10, suas mensagens automáticas indicaram problemas, para silenciar às 23h14.

Como o avião não se reportou às 23h20, Bouillard afirma que após três minutos deveria haver contato entre os controladores brasileiros e senegaleses. "Esse é um dos eixos das investigações: descobrir por que levou tanto tempo para as mensagens de alerta serem lançadas", disse.

Os pilotos tentaram falar com Senegal três vezes, diz o BEA, sem sucesso. "Não é raro. Sabemos nesse momento que todos os aviões que passaram nessa zona nesse mesmo dia tiveram dificuldades para contatar Dacar", afirmou Bouillard.

Os franceses também reafirmaram desconhecer por que o piloto não desviou da grande tempestade à sua frente, como fizeram outros voos na mesma noite. Bouillard, de todo modo, disse que a tempestade não era anormal se comparada ao padrão da região equatorial.

Com os dados disponíveis até agora, contudo, não é possível saber o peso do fator meteorológico na sucessão de eventos do acidente. Sem as caixas-pretas, provavelmente isso nunca será elucidado.

Autoridades francesas vão procurar caixas-pretas até 10 de julho

Segundo o BEA, as buscas pelas caixas-pretas continuam até o próximo dia 10 de julho. A partir de 14 de julho, as forças francesas começarão uma segunda etapa de busca com "uma exploração sistemática [da região] com sonares e robôs". Nessa fase, a prioridade será a localização dos destroços do avião. As caixas-pretas têm uma garantia de 30 dias para a emissão de sinais sonoros, mas os investigadores franceses afirmam que os sinais podem perdurar por mais alguns dias.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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