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Concorrentes são favorecidas pelas encomendas dos seus governos



Virginia Silveira, de São José dos Campos

"O governo brasileiro poderia usar o seu poder de compra para estabilizar a situação econômica de empresas de caráter estratégico, como a Embraer, a exemplo do que ocorre em países como Estados Unidos", diz um executivo da indústria aeroespacial com grande conhecimento das operações da fabricante de jatos brasileira. Segundo ele, cerca de 60% da receita da Boeing vem de compras realizadas pelo governo americano.

O executivo comenta ainda que a falta de capacidade do governo em manter um fluxo de encomendas regular a médio e longo prazos, compatível com o risco empresarial envolvido nesse tipo de atividade, é responsável hoje por grande parte das dificuldades enfrentadas pela maioria das indústrias do setor. "A redução do risco ao empreendimento e a criação de escala na produção dos aviões Bandeirante foi fundamental para que a Embraer tivesse a dimensão atual no mercado internacional", comentou o executivo.

A área de defesa da Embraer, onde se concentra grande parte das compras do governo brasileiro, representa 8,8% do faturamento da companhia. Entre os projetos em vigor está o da modernização de 46 aviões F-5, feito em parceria com a empresa israelense Elbit, e do caça subsônico AMX, que soma mais 53 aviões. A Força Aérea Brasileira (FAB) tem ainda com a Embraer um contrato de produção de 99 aviões de treinamento Super Tucano. No total, os três projetos estão avaliados em cerca de US$ 1 bilhão.

No segmento de defesa, a Embraer ainda disputa no Brasil contratos de peso, como o do projeto F-X2, que prevê a compra de 36 caças supersônicos. Recentemente, o comandante da Aeronáutica revelou, em entrevista para a imprensa, que negocia a compra de mais oito aviões C-105 Amazonas da empresa europeia EADS-CASA. A FAB já iniciou a operação de oito desses aviões em Manaus (AM) e quatro em Campo Grande (MS). O contrato foi assinado em 2005 e o valor é superior a US$ 700 milhões.

Os planos do avião cargueiro C-390, segundo fontes do setor aeroespacial, só vingará se o governo tiver uma decisão firme de comprar o projeto, incluindo o seu desenvolvimento e a compra propriamente dita das aeronaves. A partir daí, o programa teria mais condições de decolar no mercado mundial, estimado em cerca de US$ 13 bilhões.

Para o sócio-diretor da empresa Aeronáutica Graúna, Urbano Cícero de Fleury Araújo, a principal dificuldade das empresas do setor e com grande dependência das encomendas da Embraer, é a falta de capital de giro.

"A solução imediata para esse momento de extrema aflição seria a liberação de crédito via BNDES, o que permitiria que as empresas tivessem capital de giro para superar as dificuldades", disse Araújo.

Especializada em usinagem de peças, a Graúna demitiu 60 dos seus 400 funcionários em dezembro. Fornecedora de serviços de usinagem para todos os aviões da Embraer, a empresa já previa uma queda brusca na produção desde o fim de 2008 e se antecipou em cortar custos. O executivo não confirmou se a empresa faria novas reduções de mão-de-obra.

Outro problema que também poderia ser resolvido pelo governo para amenizar a situação da Embraer, segundo um executivo com grande experiência na empresa, está relacionado à carga tributária incidente sobre os aviões. "Os impostos representam cerca de 27% do valor do avião para aéreas que compram no Brasil. Isso acaba inviabilizando a compra de aeronaves da Embraer pelas companhias de aviação brasileiras", afirmou.

As empresas do ramo aeroespacial, ainda segundo a fonte, precisam muito do apoio do governo para sobreviver e serem estáveis. "Diante de uma crise na aviação mundial, que é cíclica e sempre pode ocorrer, o que salva são os pedidos do governo na área de defesa. É assim com a Boeing e com a Lockheed. Esta última, por exemplo, vive dos contratos na área de defesa."

Apenas ontem, as ações da Embraer na Bovespa caíram 11,08%. Desde a véspera das demissões, dia 19, a queda já soma 19,03%.

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