Roberta Campassi

Quando o barril de petróleo custava US$ 73, um ano atrás, medidas secundárias de redução do uso de combustível nas companhias aéreas não faziam sentido. O custo de colocá-las em prática superava as economias obtidas. Agora, no entanto, com o petróleo custando o dobro e sem perspectivas de queda, pequenas ações ganharam importância. Entre reduzir a velocidade de vôo e abastecer os aviões onde o combustível é mais barato, vale tudo para não perder dinheiro à toa.

No caso da Gol Linhas Aéreas, que reúne a Gol e a Varig, a medida de maior impacto na economia de combustível foi tomada, embora não esteja completa: ter uma frota jovem e econômica. Até o fim deste ano, a companhia vai substituir todos os seus Boeings 737-300 e 767-300, que compõem um terço da frota, por aviões de "nova geração", mais eficientes. Outras ações essenciais, tomadas por várias empresas no mundo, incluem corte de vôos deficitários - a Varig eliminou rotas internacionais de longa distância e a Gol reduziu operações no interior de São Paulo - e a elevação de tarifas.

A Gol, entretanto, reconhecida por uma política rígida de baixos custos, também refinou uma série de detalhes em suas operações desde que a escalada do petróleo teve início, há cerca de nove meses. "São as migalhas que vão ficando pelo chão e que hoje vamos recolhendo e juntando para fazer um pãozinho", define o comandante Fernando Rockert de Magalhães, vice-presidente técnico da companhia. No mundo, o querosene de aviação (QAV), combustível do setor, subiu nos mesmos níveis do petróleo. No Brasil, ele subiu menos porque o real se valorizou frente ao dólar, mas mesmo assim acumula alta de 35,3% entre janeiro e julho deste ano.

Entre as medidas secundárias adotadas pela Gol, uma das mais importantes é a redução da velocidade dos vôos, cerca de cinco ou seis quilômetros por hora a menos na velocidade de cruzeiro - parâmetro de quando o motor tem o melhor desempenho. A diminuição faz com que, num vôo entre Rio e São Paulo, que em geral dura 40 minutos, a viagem aumente dois minutos e o consumo de combustível caia cerca de 0,5%. A desaceleração, segundo Rockert, também reduz a temperatura dos motores, o que traz uma pequena vantagem em custo de manutenção.

Outras duas medidas de economia se concentram nas asas das aeronaves. Em primeiro lugar, a Gol acelerou a instalação dos chamados "winglets" na sua frota - as peças colocadas nas pontas das asas que dão a impressão de que foram entortadas para cima e que servem para reduzir o atrito do avião com o ar. As peças reduzem o consumo de combustível em até 3%. Todas as aeronaves novas da empresa já vêm com "winglets" e, nas mais antigas, eles estão sendo aplicados. "Estamos implantando mesmo nos aviões cujo contrato de leasing (aluguel) termina em até dois anos", diz Rockert. Ele conta que a Gol fez um acordo com as empresas de leasing em que o custo dos "winglets" é divido e cada parte paga metade. O investimento nas asas demora perto de 20 meses para retornar à companhia, mas, à medida que o preço do combustível sobe, o tempo do retorno diminui, observa Rockert.

A segunda ação focada nas asas é a regulagem mais freqüente de todas as peças que a compõem para que o atrito com o ar, mais uma vez, seja reduzido. O processo é chamado de rigagem.

"Os componentes da asa são como as portas de um armário que, com o tempo, já não fecham direito e interferem na aerodinâmica", compara Rockert. "Antes, ninguém pensava em fazer rigagem mais vezes porque o custo disso não compensava."

Limpar a fuselagem das aeronaves mais vezes, num processo de lavagem a seco, também ajuda a reduzir o atrito, embora a redução do uso de combustível resultante disso seja mínima. "Mas, quando você faz isso em 110 aviões que voam 350 mil horas por ano, obtém alguma economia".

Por fim, a Gol reviu nos últimos meses a sua estratégia de abastecimento para aproveitar melhor a diferença do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) cobrado sobre o QAV em diferentes estados. Minas Gerais e Rio de Janeiro são os Estados mais econômicos e onde a empresa busca abastecer mais vezes - nessas praças, o combustível fica 23% e 26% mais barato em relação a São Paulo.

A decisão sobre o abastecimento, porém, está atrelados a questões de segurança. A extensão da pista em que o avião vai pousar determina o peso que ele poderá ter e, por conseqüência, a quantidade de combustível que carrega. Rockert explica que, num vôo entre Belo Horizonte e Congonhas, em São Paulo, a companhia não pode colocar mais do que uma determinada quantidade de combustível porque a pista do aeroporto paulistano é mais curta.

No fim das contas, quanto todas essas pequenas ações representam de economia? "Com todas elas, reduzimos em 0,4% os custos do combustível", diz Rockert. Segundo o executivo, a proporção é pequena, mas o volume de dinheiro é relevante. Com base nos números do primeiro trimestre deste ano, a economia seria de R$ 2,65 milhões, sobre gastos de combustível de R$ 664,1 milhões. Os dois valores são 84% maiores do que os registrados no mesmo período de 2007. No ano passado todo, a Gol teria economizado perto de R$ 8 milhões.

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