Base de pousos e decolagens na Avenida das Américas vira objeto de discussão entre moradores
Eduardo Tavares e Felipe Sil
A presença de um heliponto no Recreio dos Bandeirantes vem causando polêmica. Inaugurada há cerca de 30 anos, na Avenida das Américas, em trecho próximo ao supermercado Mundial, a base da empresa Heli-Rio é considera uma ameaça à segurança por alguns moradores, que apontam o crescimento imobiliário do bairro e o aumento do número de veículos que circulam pela avenida como justificativas suficientes para que as operações de pouso e decolagens sejam suspensas.
- Os helicópteros fazem manobras sobre agências bancárias na Avenida das Américas. Eles passam bem próximo de onde moro, na Rua Maurício da Costa Faria, que fica a menos de 100 metros daquela avenida de grande movimento a qualquer hora do dia - reclama o presidente da Associação de Moradores do Bairro do Recreio (Amore), Dair Zanotelli. - Se ocorrer pane em uma aeronave, será uma tragédia, pois a área de escape é mínima.
O presidente da Amore sugere a alteração imediata da rota dos helicópteros que sobrevoam a zona residencial. Para ele, uma rota sobre área descampada, apenas com vegetação e longe dos veículos e prédios, seria o ideal. De acordo com Zanotelli, condomínios com nove prédios já estão sendo levantados a uma distância de 300 metros do heliponto.
- Se não surgir uma solução, faremos um movimento para interditar o local - ameaça Zanotelli, que aponta outros problemas. - Não é somente o risco de queda, o ruído das aeronaves também é nocivo. Elas sobrevoam o Parque Chico Mendes, uma área ecológica. A fauna do parque está sendo atingida, e os animais ficam assustados com o barulho. Por outro lado, existem aqueles que defendem com veemência o funcionamento do heliponto.
- No momento em que aqueles que reclamam tiverem a urgência de transportar um parente precisando de um transplante ou de atendimento médico de emergência, e ficarem retidos no trânsito da Avenida das Américas, eu quero ver - argumenta o fundador da Ouvidoria da Barra, Paulo Bittencourt.
Ele lembra que helipontos fazem parte de qualquer cidade desenvolvida, e o do Recreio já existe há muitos anos ali
- Quer dizer que se eu me mudar para próximo de um zoológico, vou poder reclamar do rugido do leão? Isso não tem cabimento - diz Bittencourt. - Os moradores do Recreio deveriam se preocupar não com o heliponto, mas sim com as ilegalidades que assolam a região, como crescimento desordenado e favelização.
Morador do Recreio há 20 anos, Luiz Felipe Baptista discorda e acredita que algo deve ser feito enquanto há tempo.
- Devemos evitar uma fatalidade. Na época em que foi construído o heliponto, o Recreio era uma aldeia e as ruas, de terra. Com o crescimento imobiliário, a presença dele torna-se cada vez mais inconveniente. O heliponto da Lagoa também vem sofrendo a pressão da comunidade para deixar de operar - diz Luiz Felipe.
Gerente da empresa diz que operação é muito segura
Quem chegou primeiro? O heliponto do Recreio ou os prédios, frutos do acelerado crescimento imobiliário? Com estas perguntas, o gerente da Heli-Rio, Celestino Blanco, inicia a conversa em um confortável salão a cerca de 150 metros da Avenida das Américas.
- Quando o heliponto surgiu, em 1979, praticamente não existiam moradias nas proximidades. O que acontece no entorno é um crescimento desordenado, sem fiscalização por parte dos órgãos públicos - argumenta.
Celestino garante que não há nenhuma construção vizinha que sofra riscos devido à proximidade do heliponto. Segundo ele, um estudo é realizado a cada cinco anos com o objetivo de verificar a distância e os riscos. O gerente explica que, no ano passado, o resultado foi novamente favorável à manutenção da base da empresa naquele trecho do Recreio. Ele também informou que o espaço possui áreas de pouso e decolagem registradas no Manual Oficial dos Pilotos do Brasil. Qualquer profissional de vôo conhece as coordenadas geográficas da instalação, o que diminui consideravelmente a possibilidade de acidentes.
- De qualquer forma, se existem helicópteros cometendo barbaridades no céu da região, tenho a obrigação de comunicar à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O órgão, então, pune o piloto que comete a irregularidade - conclui Celestino Blanco.
“Quando o heliponto surgiu, praticamente não existiam moradias. O problema é o crescimento (urbano) desordenado”
Celestino Blanco - gerente da Heli-Rio
"Qualquer pane em aeronave será uma tragédia. Sem solução, faremos um movimento para interditar o heliponto”
Dair Zanotelli presidente da Amore