Pular para o conteúdo principal

Foi barbeiragem?

Técnico teria cortado, por engano, cabo de conexão do Cindacta-4. Sabotagem era a primeira hipótese

Afonso Morais
Da equipe do Correio Braziliense

A Aeronáutica abriu sindicância para apurar as causas do apagão no Centro de Controle Aéreo de Manaus (Cindacta-4), que provocou a suspensão de vôos domésticos e internacionais na Região Norte, no sábado. No final do primeiro dia de investigação, a hipótese mais provável era a de que um técnico em eletricidade que estava de plantão na última sexta-feira tenha cortado, por engano, o sistema de alimentação de energia externa, causando, com isso, falha nos dois geradores de emergência.

Antes disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) havia levantado a suspeita de sabotagem, hipótese que já estava praticamente descartada pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, na noite de ontem. Saito viajou para a capital amazonense, onde acompanhou de perto o início das investigações.

A FAB negou que as aeronaves monitoradas pelo centro tenham corrido algum risco de acidente. O resultado da sindicância, que será realizada pelos técnicos do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, deve sair em 40 dias. A pane ocorreu às 23h17 de sexta-feira. Foram mais de três horas até que o problema fosse sanado.

O Cindacta-4 responde por 90% do tráfego entre Brasil, Estados Unidos e América Central. Vôos internacionais tiveram que ser remanejados para outros países. De acordo com a Aeronáutica, no momento da falha, dos 17 aviões em vôo, oito tiveram a rota modificada.

Ao abrir as investigações, a Aeronáutica informou que o inquérito consideraria todas as hipóteses que podem ter causado a pane, inclusive sabotagem. A comissão da Força Aérea Brasileira que investiga o problema levantou quatro indícios de ação criminosa: o horário que ocorreu a pane seria o de concentração de vôos internacionais, o sistema reserva também não funcionou, a falha durou quase três horas (mais do que o tempo normal previsto) e, desde o acidente da Gol, em setembro do ano passado, o sistema apresentou mais problemas do que nos 30 anos anteriores.

Os controladores de vôo de Manaus reagiram às suspeitas de sabotagem: “Não somos terroristas. A Aeronáutica está procurando uma válvula de escape. A alegação de sabotagem não tem consistência, pois o prédio da divisão técnica é separado do centro de controle e as portas só abrem com cartão magnético”, afirmou um controlador do Cindacta-4.

Em repúdio à declaração da Aeronáutica, o presidente da Federação Brasileiras das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo, Carlos Trifilio, comentou que, se tivesse sido vítima de sabotagem, “a Aeronáutica seria incompetente, porque deveria vigiar melhor o equipamento que está sob a sua responsabilidade”. “O nosso trabalho é preservar a segurança de quem está voando. O momento para este tipo de declaração foi infeliz”, disse.

Anomalia

Em nota, a FAB informou que o técnico responsável constatou “uma anormalidade em um dos geradores do Cindacta-4 durante inspeção de rotina”. A falha, no entanto, não comprometia o controle de tráfego aéreo, o que teria levantado a suspeita de ação criminosa.

De acordo com um operador ouvido pelo Correio, 12 controladores trabalhavam quando o apagão aconteceu. O militar diz ainda que a falha em Manaus obrigou os controladores de vôo a trabalharem no escuro e a fazerem contato com órgãos de controle de aproximação por meio de seus celulares pessoais. Apenas duas linhas de telefones fixos teriam funcionado durante o colapso elétrico.

“A situação precária poderia ter levado a uma nova tragédia”.

Segundo o relato do controlador, havia 45 aeronaves sem condições de comunicação sobrevoando a região amazônica durante o apagão. Para garantir a segurança dos vôos, os controladores sugeriram fechar o espaço aéreo. “Queríamos separar as aeronaves que já estavam voando e, do nosso setor, mandar que todas pousassem”, contou. Mas, segundo a fonte, houve resistência do comando do centro sobre essa medida. Um controlador do Cindacta-1, em Brasília, manifestou preocupação com a segurança dos colegas de Manaus.

A Manaus Energia, concessionária do serviço de distribuição de energia comercial na capital do Amazonas informou não ter registrado cortes no fornecimento. “O problema foi de ordem interna”, disse o diretor de distribuição da Manaus Energia, Wenceslau Abtibol.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul