Pular para o conteúdo principal

Brincalhão, piloto tinha sido promovido havia apenas um mês

Henrique Di Sacco já havia trabalhado na Transbrasil e na Passaredo, de Ribeirão Preto, onde ficou até o início do ano

Comandante tinha 14.486 horas de vôo; Diego Salsedo, 21, que acompanhava Di Sacco, faria última prova para ser piloto da TAM

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL - FOLHA DE SÃO PAULO

O piloto Henrique Stephanini Di Sacco, 53, comandante do vôo JJ 3054 da TAM, adorava voar, mas, quando estava de folga, não trocava o mar por nenhum outro programa. Reunia a mulher, Maria Helena, e os três filhos e seguia para a casa de praia nos arredores de Maresias, no litoral norte paulista.

Além de lazer, a água também foi durante alguns anos fonte de renda da família. Quando se viu desempregado em 2001, após a Transbrasil suspender as operações, o piloto abriu uma empresa de distribuição de água mineral. Deu-lhe o nome de Santa Clara.

Nesse período, ele chegou a receber propostas para trabalhar no exterior, mas não quis deixar o país. Ano passado, ingressou na empresa Passaredo, em Ribeirão Preto (SP), onde permaneceu até o início deste ano, quando entrou na TAM.

Com cabelos grisalhos desde os 20 anos e cortados à escovinha, Stephanini não bebia e não fumava. Entre os amigos de aviação, o comandante era conhecido pelo jeito brincalhão e sempre de bem com a vida.

"Era um meninão, um garoto que adorava brincar", resume o piloto aposentado Walter Chagas, 62, que por 20 anos trabalhou ao lado de Stephanini na Transbrasil, como comandante de Boeing 707.

Recordação parecida tem o presidente da Associação de Aposentados da Transbrasil, Francisco Tomaz, que também atuou com Stephanini. "Era tranqüilo, bom profissional, um pai de família dedicado."

Havia seis meses que o piloto tinha sido contratado pela TAM. Mês passado, concluiu o treinamento e foi promovido a comandante. "Quando pilotos começam a operar aviões de modelos e fabricantes diferentes, precisam passar por treinamento", explica Tomaz.
Para Chagas, Stephanini e o outro comandante do vôo, Kleyber Lima, eram profissionais "altamente habilidosos".

Lima, de Porto Velho, tinha um total de 14.744 horas de vôo. Trabalhava havia dez anos na TAM. Stephanini reunia 14.486 horas de vôo. Procurados, seus familiares não quiseram falar com a reportagem. Os de Lima não foram localizados.

Jovem piloto

Ao lado de Di Sacco, o jovem piloto Diego Salsedo, 21, entrou no vôo 3054 pensando na última prova que faria hoje, em São Paulo, para se tornar piloto da TAM. Aprovado em todas as três etapas anteriores de seleção, faria o teste final.

Já estava decidido a trocar Porto Alegre por São Paulo e o emprego de piloto na NHT Linhas Aéreas pela TAM.

Após a tragédia, o pai dele, Luiz Antônio Salsedo, chegou ao aeroporto Salgado Filho às 13h de ontem para viajar a São Paulo. Com apenas uma pasta nas mãos, levava uma cópia da arcada dentária do filho.

"É muito triste. Não existe consolo numa hora dessas. Ele estava indo realizar um sonho."

Diego havia concluído há três anos o curso de ciências aeronáuticas na PUC-RS e sonhava em trabalhar em uma grande companhia aérea.

O vôo disponibilizado pela TAM para o pai do piloto partiria de Porto Alegre 24 horas depois do 3054, sob o número 3106. Segundo a TAM, por meio de sua assessoria, é procedimento padrão das companhias trocar o número de vôos regulares, como o 3054, quando acontece uma tragédia, por isso o pai do piloto viajou no vôo 3106, que substituiu na grade da empresa o 3054.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul