Nota, assinada pela associação dos operadores de vôo, foi exigida pelo governo para retomar negociações com a categoria

Antes de divulgar o texto, líder dos controladores já havia enviado mensagens aos colegas pedindo paciência e compreensão do "jogo político"

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Seis dias após o motim que fechou os aeroportos de todo o país, os controladores de tráfego aéreo pediram "perdão" à sociedade pelo trauma da paralisação, que classificaram como um "grito de socorro" da categoria e não uma "simples rebelião de militares".

A nota traz ainda um explícito agrado político exigido pelo governo nas negociações de terça e quarta, ao reafirmar o respeito ao governo, ao Comando da Aeronáutica e "principalmente às bases do militarismo: hierarquia e disciplina". A principal reivindicação dos controladores é justamente a desmilitarização do setor.

A nota é assinada pelo sargento Wellington Rodrigues, presidente da ABCTA (Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo).

"É um recuo estratégico. Entendemos que a pressão foi grande e que as Forças Armadas precisavam deste aceno", disse o sargento Moisés Almeida, vice-presidente da Febracta (Federação Brasileira de Associações de Controladores de Tráfego Aéreo). Ele e Rodrigues são os interlocutores da maioria militar da categoria.

Rodrigues não respondeu à reportagem. Mas, antes de soltar a nota, já havia enviado mensagens para os controladores com pedido de paciência e compreensão do "jogo político". No quadro de avisos da sala de repouso do Cindacta-1, há uma mensagem da ABCTA: "Paz. Aguarda e Confia!", recado conhecido internamente como a palavra de ordem de Rodrigues nos seis meses de crise.

O clima de trabalho ontem foi relatado como "péssimo", mas oficiais e sargentos confirmam as ordens de manter a calma. A Páscoa é tida como um teste para todos.

Segundo a Folha apurou, os controladores já receberam do governo a informação de que um cronograma de reuniões e ações será apresentado na próxima semana -o que teria ajudado a acalmar os ânimos exaltados após o recuo do governo sobre o acordo que encerrou o motim na noite de sexta.

Também teriam tido uma sinalização, ainda a ser confirmada, de que o ponto da "não-punição" do acordo pode ser resgatado se não houver mais problemas no setor.

A nota da ABCTA trouxe ainda um apelo para resgatar a "confiança, respeito e prestígio" da sociedade.

"Pedimos perdão à sociedade brasileira e paz para voltarmos a executar com maestria nosso trabalho", diz o texto.

"A ABCTA não medirá esforços para reconstruir a imagem de seus representados, assim como lutar por sua dignidade."

Controladores ouvidos ontem relatam que já esperavam e aceitam o forte refugo político, tanto nas condenações públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como internamente, entre os oficiais e sargentos de outros setores.

Afirmam, quase que de forma orquestrada, que é preciso ficar claro que não pretenderam agredir a Aeronáutica ou a instituição militar, mas sim chamar a atenção para a crise de seis meses e a necessidade de repartir responsabilidades do controle de tráfego aéreo com um órgão civil e transparente. O assunto da gratificação -valor de R$ 3.000 como sinalização de "boa-fé"- foi temporariamente enterrado.

O discurso se alinha à nota: "Que o dia 30 de março seja lembrado como um grito de socorro dos controladores de tráfego aéreo e não como uma simples rebelião de militares".

No Comando da Aeronáutica, a nota foi vista como um reconhecimento do erro cometido contra a população. Mas não influencia em nada o andamento dos IPMs (Inquérito Policial Militar) que investigam o motim nos Cindactas.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também foi procurada pelos controladores para ajudar na interlocução com o governo.

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