Plácido Fernandes – Correio Braziliense

Depois do “relaxa e goza” de Marta e do “sinal de prosperidade” de Mantega, sobre as filas e asconfusões nos aeroportos, imaginava-se que o governo já havia produzido sua cota máxima de estupidez a respeito do apagão aéreo. Mas, para estarrecimento geral da nação, o espetáculo dantesco parece não ter limites. Numa hora de forte comoção nacional diante da tragédia que deixou quase 200 mortos em Congonhas, foi estarrecedor assistir à comemoração protagonizada com gestos obscenos. Ainda mais dentro do Palácio do Planalto, o símbolo máximo do poder no país.

Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência, e um auxiliar festejavam a informação de que a causa do acidente poderia estar numa falha no avião da TAM — e não na pista do aeroporto, o que supostamente eximiria o governo de culpa pela tragédia. Em qualquer lugar do mundo, o desfecho imediato do flagrante seriam os dois se apressando em pedir demissão para não enlamear ainda mais a imagem da administração petista. Ou, então, o presidente da República agindo rapidamente para afastálos e pedindo desculpas à nação pela falta de compostura dos auxiliares.

Mas o que ocorreu em seguida? Nem uma coisa nem outra. Assim como não demitiu o ministro Waldir Pires, que se revelou incapaz de resolver a crise aérea que se arrasta há 10 longos meses, Lula também se mostrou leniente com o escárnio de Garcia. Fez pior. Tomou uma iniciativa que já se tornou uma espécie de bordão presidencial: sempre que o governo é posto sob suspeita de haver cometido alguma falta grave ou de ter algum integrante ou aliado acusado de corrupção, Lula vem a público dizer que não se deve condenar sem antes apurar devidamente o que aconteceu. Até aí, perfeito.

Mas há casos e casos. O de Garcia e do assessor, por exemplo, dispensa apurações aprofundadas. As imagens do escandaloso flagrante falam por si só. E não vale a alegação de que o dois estavam em local privado: no Brasil, mais público do que o Palácio do Planalto, impossível. Ainda mais com as cortinas abertas e uma câmara de TV por perto. Para um político, as palavras são essenciais. Mas é sempre mais educativo saber quem ele é pelo que faz, pela maneira como age, pelas atitudes que toma. Na crise do setor aéreo, o governo Lula tem se revelado um desastre nos dois casos.

Ruim nas palavras. Pior ainda nos gestos.

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