Por Fábio Pupo e Carlos Prieto | Valor
De São Paulo
Em entrevista, o presidente da OHL Brasil, José Carlos Ferreira de Oliveira Filho, fala sobre a complexidade do requerimento para licenças ambientais, diz que não falta dinheiro para as obras e credita as críticas a articulações da política e ação dos concorrentes.
Valor: A reação dos grupos concorrentes logo após sua vitória no leilão das rodovias em 2007 surpreendeu? Sua oferta foi agressiva.
José Carlos Ferreira de Oliveira Filho: Mas bem calculada. Porque acreditamos no crescimento do Brasil e do tráfego das estradas. Tanto que nossas expectativas estão se cumprindo.
Valor: Falou-se na época que ou a OHL não conseguiria bancar o investimento ou não teria rentabilidade para o acionista. Que balanço se faz passados esses quatro anos?
Oliveira Filho: O acionista está satisfeito. Queria entrar em concessões e criar mercado. As ações estão valorizadas, os acionistas respeitam a gente e a empresa tem bom desempenho. E todos aguardam a entrada em novos negócios.
Valor: E vocês vão entrar da mesma maneira em aeroportos? Vão deixar todos nervosos.
Oliveira Filho: Tem gente que já está nervosa. Mas fizemos uma parceria boa, com a Aena, que além de ter aeroportos, tem experiência internacional. Teríamos experiência para entrar sozinhos, em um aeroporto menor, mas nos reforçamos com a Aena.
Valor: Então a disposição é para um dos grandes? Há um terminal específico no qual têm interesse?
Oliveira Filho: Ainda não, e nem poderia dizer. Mas vamos estudar e tentar pegar um dos três. Não vamos entrar só por participar, não é o nosso estilo.
Valor: O senhor acha que tem alguma coisa de errado com o modelo de concessão federal de rodovias?
Oliveira Filho: Eu olho mais os acertos do que os erros. Tem ajustes que decorrem do [crescimento do] país. Lá em Curitiba, por exemplo, pediram pra encaixar a Linha Verde [projeto urbano]. Então atrasa um pouco e atende o pedido. Lá em Campos (RJ), o contorno tava do lado esquerdo e agora vamos mudar para outro lado, para ter acesso ao porto. São ajustes pedidos, não são erros.
Valor: Das cinco concessões federais, todas as cinco sofreram atraso ou mudança de cronograma?
Oliveira Filho: As grandes obras, sim.
Valor: E qual a justificativa?
Oliveira Filho: Para cada uma tem um motivo. Uma parte é licença ambiental e outra parte é mudança de projeto.
Valor: No caso das concessões de energia, o governo agora concede licenças ambientais antes de realizar o leilão. É o ideal?
Oliveira Filho: É. Quanto antes tiver, mais rápido anda. É a legislação, não é culpa do Ibama. Na Régis, dividimos o licenciamento entre as beiradas e o miolo da Serra do Cafezal. Nos criticam porque dividimos, mas é porque dividimos que está quase 40% em obras. Havia 30 anos que ninguém tomava providência. Agora que estamos tomando, todo mundo fala que estamos enrolados.
Valor: Mas o senhor não concorda que é muito tempo? A concessão foi feita em 2008 e em 2011 ainda está sendo discutida a licença?
Oliveira Filho: Ela vai sair, creio, em janeiro. Vamos começar a obra em março, passada a época de chuvas. O prazo é o fim de 2013. [A licença] estava bloqueada pela Justiça. Mas pedir licença não é só escrever um requerimento. Porque tem de fazer topografia, coleta de fauna, esperar a época de acasalamento... Agora, queremos que saia. É a primeira linha da engenharia brasileira que está trabalhando nisso.
Valor: Nas cinco rodovias ainda há pendências de licenciamento?
Oliveira Filho: Na Fernão, praticamente não. A Planalto Sul, praticamente não [falta licença para 17 km]. A Litoral tem esse projeto do contorno. A Régis tem a serra e no Rio tem uma parte da duplicação [já está liberado para 60 km dos 176 km]. Não chamo de pendências, é parte do processo.
Isso não é privilégio nosso. Não é fácil [conseguir o licenciamento], o governo tá empenhado em simplificar. Não são só as estradas. O Brasil tem uma série de obras de infraestrutura para fazer e deve simplificar o que puder. Agora, os incomodados com nosso trabalho, que continuem incomodados.
Valor: Em alguma delas houve falta de recursos para a obra?
Oliveira Filho: Não. Estamos preparados. Já me perguntaram se não tinha dinheiro. Nosso balanço é publico, é só olhar. Temos dinheiro e recurso técnico faz tempo. Tendo licença, começa. Dinheiro nunca foi o problema.
Valor: São R$ 3 bilhões de investimento de 2012 a 2015 só nas federais. Desse dinheiro, quanto vocês têm em caixa com recursos próprio e de terceiros?
Oliveira Filho: Temos R$ 1,2 bilhão de recursos próprios e R$ 2,4 bilhões do BNDES. Quer dizer, o dinheiro já está aqui.
Valor: E a crise na Espanha afeta o cotidiano daqui?
Oliveira Filho: Não, é independente. Na Espanha, as empresas que tiveram visão e conseguiram se internacionalizar melhoraram.
Valor: E como é ter a Infraero como sócia nos aeroportos?
Oliveira Filho: O governo quer manter a Infraero no negócio para ter a receita desses aeroportos e poder cobrir os outros. Tem sentido. E se for um acionista normal, não vejo problemas.
Valor: Mas é um acionista público, sujeito a pressões públicas...
Oliveira Filho: É a condição que o governo está colocando. Mas ela tem experiência. Você pode ver pelo lado dos problemas e pelo lado bom. A gente sempre vê o lado bom, analisando os problemas, mas vendo o lado bom. Eu sou a favor da concessão.
Valor: E o apetite vai ser parecido com as concessões de estradas?
Oliveira Filho: Não sei (risos).
Valor: Como o senhor avalia as críticas que recebem até hoje?
Oliveira Filho: A origem [das críticas] não posso afirmar, acho que tem um pouco de política, um pouco dos concorrentes. Sei lá, para prejudicar a gente e não nos deixar entrar em aeroportos, não sei.