Companhia aérea alemã, às voltas com insatisfação dos funcionários, busca saídas para voltar a crescer
Dinah Deckstein - O Estado de SP
Se a companhia aérea alemã Lufthansa conseguir fechar este ano com um lucro de alguns milhões acima do esperado, será, em parte, graças a uma mulher: a juíza trabalhista de Frankfurt, Silke Kohlschitter, 43. Na semana passada, quando a associação dos pilotos Cockpit já contabilizava 18 horas da greve planejada para durar quatro dias, a determinada juíza surpreendeu. Com charme e habilidade diplomática, ela conseguiu levar de volta à mesa de negociações os representantes sindicais e da administração que estavam em guerra entre si.
Mas a questão crucial - determinar se, e até que ponto, as condições de trabalho alemãs deveriam se aplicar às subsidiárias nacionais e estrangeiras - continua sem solução. Em vez disso, a greve acabou e, até este domingo, as negociações formais só tratarão do aumento de salário, da melhoria da jornada de trabalho e das folgas dos aproximadamente 4,5 mil pilotos da companhia na Alemanha.
A decisão de Kohlschitter talvez tenha agradado imensamente ao CEO da Lufthansa, Wolfgang Mayrhuber, e ao vice, Christoph Franz. Segundo eles, o fim abrupto da greve permitiu que a companhia economizasse mais de 100 milhões (US$ 74 milhões) em receitas perdidas. Mas, até agora, os principais executivos da companhia não pensam em comemorar. O conflito com os pilotos a respeito dos salários e da jornada de trabalho é o menor dos seus problemas.
Durante décadas, a companhia foi considerada uma das empresas administradas de maneira mais eficiente na Alemanha. Em pesquisas entre jovens recém-formados em universidades, a Lufthansa foi colocada no topo da lista das futuras empregadoras preferidas.
SEM CONTROLE
Franz, que presidiu a recuperação da Swiss, foi o primeiro a definir claramente os problemas da Lufthansa. A crítica indireta a Mayrhuber e ao presidente do conselho de supervisão da empresa, Jürgen Weber, contida nos comentários, mostra quão séria se tornou a situação da Lufthansa.
Sob a direção de Weber e Mayrhuber, a Lufthansa virou a quinta maior companhia aérea do mundo em número de passageiros. No entanto, ao mesmo tempo, os dois executivos criaram - com as aquisições, o desenvolvimento de novos polos e a maciça expansão dos serviços da companhia aérea - uma entidade difícil de controlar, até mesmo na melhor das situações.
Durante muito tempo, os dois executivos aceitaram os prejuízos nas rotas internas alemãs e europeias como forma de preservar a lotação nas rotas de longa distância. Ao mesmo tempo, encomendaram aviões novos por um total de aproximadamente 16 bilhões, a maioria dos quais deverá ser entregue nos próximos seis anos.
Mas a elaborada estrutura da companhia está ficando cada vez mais frágil. Ela enfrenta a feroz competição, por um lado, de empresas que oferecem descontos sobre o preço das passagens, como a EasyJet e a Air Berlin, em uma das extremidades do espectro. Na outra extremidade, há um número cada vez maior de empresas aéreas árabes, como a Emirates e a Qatar Airways. As novas concorrentes, surgidas muito depois da Lufthansa, têm estruturas de custos consideravelmente mais eficientes do que a alemã, fundada há mais de 80 anos.
Além disso, os passageiros que viajam a negócios, e há muito tempo constituem uma ampla fatia dos ganhos da empresa, agora preferem a classe econômica, em vez da cara classe executiva ou da primeira classe.
PACOTE
Cristoph, o possível sucessor de Mayrhuber, pretende impor todo um pacote de medidas destinadas a reduzir os custos para impedir uma nova deterioração dos resultados financeiros da Lufthansa, outrora motivo de orgulho. Entre as medidas, estão a aceleração da introdução de jatos de maior porte nas rotas regionais e a redução dos custos nas áreas de administração, alimentação e taxas aeroportuárias e de segurança.
O executivo e sua equipe formada por 15 pessoas pretendem conseguir centenas de milhões em receitas adicionais instalando mais assentos em parte da frota, aumentando a utilização da capacidade dos aviões e adiando a entrega de alguns dos jatos encomendados, como o Airbus A380. A administração quer que os funcionários contribuam com o restante das economias planejadas - cerca de 200 milhões de um total de cerca de 1 bilhão - por meio de medidas como acordos de demissão voluntária, jornada de trabalho prolongada e a exclusão de determinados serviços aos quais eles se acostumaram.
Mas os planos da administração foram recebidos com forte resistência pelos funcionários. "O ônus financeiro da Lufthansa é o resultado de dispendiosas aquisições", afirma Thomas von Sturm, líder da comissão de negociação dos pilotos. E ressalta que, hoje, os pilotos representam apenas cerca de 4% do total dos custos da companhia.
Em vez de pedir novos sacrifícios aos funcionários, diz Sturm, a administração deveria melhorar o interior dos jatos da Lufthansa, que, segundo ele, estão terrivelmente ultrapassados em comparação com as concorrentes.
Representantes dos comissários de bordo da companhia, que deverão começar brevemente as negociações salariais, adotaram a mesma postura. Os comissários já rejeitaram a decisão da administração de reduzir o número de tripulantes nos voos de longa duração a um único funcionário. O sindicato Ver.di, dos trabalhadores em serviços, que representa alguns dos tripulantes da companhia, chega mesmo a suspeitar que a administração da Lufthansa estaria "procurando consertar erros passados da companhia à custa dos empregados, garantindo desse modo os recursos para as suas aquisições".