Europa retoma voos, mas empresas aéreas têm em 6 dias 60% das perdas esperadas em 2010
LONDRES - O Globo
Após uma semana de caos nos aeroportos, a Eurocontrol, a agência aérea europeia, esperava que hoje pudessem aterrissar e decolar quase todos os voos do continente.
Com milhões de passageiros ainda aguardando uma vaga nos voos, as companhias aéreas começam a contabilizar seus prejuízos, com as cifras alcançando quase US$ 2 bilhões.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) informou que a paralisação no norte e centro da Europa, causada por uma nuvem vulcânica, custará às companhias aéreas US$ 1,7 bilhão.
Isso equivale a mais da metade das perdas esperadas para todo o ano de 2010 — 60,7%. Os prejuízos atingem ainda a indústria turística.
Na Espanha, por exemplo, o setor calcula as perdas em US$ 252 milhões.
No auge da crise, um terço dos voos do mundo foram afetados, prejudicando 1,2 milhão de passageiros por dia. Entre sábado e segunda-feira, as companhias aéreas chegaram a perder US$ 400 milhões por dia.
— Para uma indústria que perdeu US$ 9,4 bilhões no último ano e que prevê perder mais US$ 2,8 bilhões em 2010, essa crise é devastadora — afirmou o presidente da Iata, Giovanni Bisignani.
A Comissão Europeia afirmou que ajudará as companhias aéreas a superar a crise causada pelo fechamento do espaço aéreo. Muitas companhias aéreas criticaram duramente a extensão das restrições aéreos.
Pela primeira vez desde o início da crise, nenhum país apresentava ontem restrição total ao voo — as restrições se limitavam ao espaço aéreo abaixo dos 6 mil metros em áreas da Finlândia e do norte da Escócia. Mas, os transtornos aos passageiros podem se prolongar até maio.
Ao redor do mundo, as companhias aéreas colocaram voos extras, tentando contornar o cancelamento de quase 100 mil voos nos últimos dias. Longas filas se formavam nos maiores aeroportos da Europa, como Londres, Paris, Frankfurt e Madri.
No Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos foi um dia de emoção com a volta dos brasileiros que ficaram retidos na Europa. O choro se misturava ao riso com famílias se reencontrando.
A frequência dos voos vindos da Europa voltava à quase normalidade: das 14 chegadas previstas de manhã, apenas duas foram canceladas, ambas de Londres, uma da British Airways e outra da TAM.
Das 18 partidas previstas para o final da tarde e noite de ontem, apenas uma, às 16h15m, da British Airways, para a capital inglesa, foi cancelada.
Os passageiros lembravam dos apuros que passaram. A farmacêutica Renata Sofredini de Freitas havia viajado para um congresso na França. Ela tentou sair de Paris e embarcar por Zurique, na Suíça.
Mas, ao chegar, a nuvem vulcânica também estava lá.
— Só conseguiram remarcar meu voo para terça-feira, ainda com espera. Se não conseguíssemos embarcar na terça à noite, só teriam disponibilidade para maio, porque tudo estava lotado.
Aí bate o desespero, você quer ir para casa de qualquer jeito — contou.
Vulcão perde intensidade
A reabertura dos aeroportos continua a gerar polêmica.
Os pilotos reclamam que não foram ouvidos e algumas pessoas veem pressões das companhias aéreas. A British Airways teria entrado em contato com as autoridades quando já tinha mais de 20 aviões no ar, querendo pousá-los em Londres, enquanto o espaço aéreo britânico ainda estava fechado na terça-feira. A KLM também enviou aviões a Amsterdã antes da reabertura, informou a associação holandesa de pilotos.
Na Islândia, o causador do problema, o vulcão Eyjafjallajokull, perdeu 80% de sua intensidade, mas a situação ainda é inconstante. Embora ele esteja lançando blocos de magma do tamanho de um carro, a emissão de cinzas diminuiu. Há temores de que a erupção faça o vulcão Katla, vizinho e maior, entrar em atividade.
COLABOROU Donizeti Costa, de São Paulo